De volta para minha terra
Resido em Umuarama, Paraná, e minha família no Mato Grosso do Sul, na capital Campo Grande. Voltei para minha terra há um mês. Escolhemos, minha família e eu, ir pela estrada que corta o noroeste paranaense pela Ilha Grande, um manancial de fauna e flora protegidos pela União. A rodovia que corta as ilhotas é uma beleza. De perfeita manutenção e conta com três belas pontes, que fazem a travessia do Rio Paraná, construídas depois da ponte Airton Senna, que é a outra opção de viagem. Saímos por volta das dez horas da manhã com intenção de almoçar em Dourados (MS), em casa de uma prima.
Uma hora depois da saída percebi o interesse das crianças observando os campos onde um ou outro bicho se deixava ver entre as folhas das árvores, nos galhos menos escondidos ou passando rápido na estrada frente aos nossos olhos. Quando isso ocorria era preciso frear o veículo, pois os animais circulam livremente nesse trecho, por isso há sinalizações nos mais de duzentos quilômetros de estrada prevenindo os motoristas. A Ilha Grande é uma estância ecológica preservada onde animais em extinção ainda conseguem manter-se no seu habitat natural.
Um veado cortou o espaço com um pulo bem próximo a nós, enquanto permanecíamos parados na saída da primeira ponte, tentando pegar torre para falar ao celular. A cena permanece em nossas mentes, pois foi de tirar o fôlego. O veado normalmente tão arisco veio vindo em trotes pausados e de repente deu salto no ar e passou entre o grupo há poucos centímetros da minha caçula, que gritou eufórica:
- Ele não tem medo de mim! Rimos todos emocionados, mas meio nervosos. Realmente uma cena cinematográfica.
A natureza é prodigiosa na divisa dos dois estados. Uma infinidade de animais passeia enquanto as pessoas viajam, como se não se incomodassem com a presença de intrusos. Ao longo da estrada, os ribeirinhos que moram nas imediações do rio, são vistos de longe em seus botes de pesca, próximos de pequenas habitações. Lá em cima um pontinho se mexe descendo o rio. Pontinho que aos poucos vai crescendo, levantando ondas maiores até chegar bem perto, de onde é possível ver os respingo d’água sendo jogados pelo vento. Na lancha quatro homens viajam com os cabelos revoltos sem a mínima preocupação com o sol que lhes banha as faces. Eles passaram por baixo da ponte e de nós. Estávamos na ponte mais alta das três, a que cobre o canal por onde navegam grandes navios, transatlânticos.
As cenas comovedoras ainda estavam frescas em nossas cabeças quando passamos por um acampamento de Sem Terras, ao largo da estrada. Centenas de casinhas feitas de varas e cobertas de lonas pretas a pequena distância umas das outras (ao longo do caminho vimos muitos outros acampamentos nos dois estados).
- Eu acho que o prefeito tinha que dar casas para essas pessoas morarem nas cidades, mãe; aqui não tem escola, não tem parque, não tem sorvete e as crianças precisam de tudo isso, disse Victória, do alto dos seus sete aninhos, muito bem informados.
Rimos todos e concordamos com ela. O sol ia alto e estávamos precisando tomar líquido gelado. Fizemos a parada para o suco que tínhamos em uma grande garrafa térmica.
Almoçamos com a prima e depois de um curto bate-papo seguimos viagem sentido capital. A rodovia que transitamos a partir daí é a mesma que leva toda a safra do Estado para o Porto Paranaguá, no Paraná. Muito movimentada, por onde trafegam pesados caminhões e carretas. A mesma rodovia corta todo o estado do Mato Grosso ligando o Sul ao Norte do Brasil.
Estávamos a menos de 120 quilômetros de Campo Grande quando meu marido foi multado por ultrapassagem perigosa. Não adiantou a alegação de que o motorista da carreta que vinha à frente havia dado espaço, saindo pelo acostamento, para que os veículos que vinham atrás a ultrapassassem. Peguei o volante e em silêncio fizemos o resto do trajeto.
Campo Grande é uma bela cidade, muito bem planejada. Como quase todas as cidades do estado. A Cidade Morena é aberta, de largas avenidas de mão dupla muito bem arborizadas. Com cerca de um milhão e meio de habitantes, a capital é bem distribuída com pontos turísticos muito bacanas. Dentre eles, o Horto Florestal onde estão expostas obras de artistas plásticos com motivos pantaneiros. O córrego Prosa, que corta a cidade é, em toda sua extensão, acompanhado de via rápida, construída para desafogar o trânsito do centro nos horários de picos. Campo Grande é considerada a cidade de maior número de veículos por habitantes no Brasil.
Na casa do meu pai há uma loja-museu, pois ele é artesão e não para de trabalhar. Sempre que chegamos há muito que conhecer. Além de artesão, meu pai é músico e constrói os instrumentos que toca (harpa, violino, viola, violão - tudo o que tem corda; teclado e sanfona). Ele participou recentemente de um projeto da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, expondo seus trabalhos durante uma semana em uma feira, ao lado de artistas renomados. Isso abriu muitas portas para ele, pois teve ampla divulgação televisiva. Depois disso, meu velhinho passou a dar aulas de música para seus clientes.
Muitas surpresas nos aguardavam na casa do meu pai. A maior delas foi a reunião de domingo. Dias antes eu comentara com uma das irmãs, que deveríamos fazer o Evangelho no Lar em intenção da alma de nossa mãe, que partiu há mais de vinte anos para a Pátria Espiritual. Meu pai, sabendo da conversa, levou a idéia adiante convidando todos os filhos, noras, genros, netos, bisnetos, sobrinhos, tios e o que foi possível convocar em poucos dias. O evento aconteceu lá mesmo, na casa dele, no domingo de manhã, poucas horas antes da viagem de retorno para casa.
Colocamo-nos em círculo e alguém me pediu para fazer a abertura e prece. Fui pega de surpresa porque geralmente são os anfitriões que dirigem o Evangelho; uma emoção fora do comum tomou conta de todo meu ser e com voz trêmula, embargada de emoção, iniciei a tarefa rogando a Deus nos facultasse o amparo e fui aos poucos elaborando a fala, lembrando a importância que teve a mãe, em nossas vidas. À medida que falava alguma coisa acontecia no meu interior e aos poucos fui me deixando levar pelo calor que provinha de algum lugar no espaço, enquanto uma serenidade imensa me acalentava a voz. Lembrei aos presentes dos exemplos de dignidade e justiça com que ela pautou sua vida; da sua inteligência e brandura; do caráter benevolente que sempre teve, do cuidado e delicadeza que tinha ao tratar o semelhante. A caridade foi a sua marca maior e sendo assim, aproveitando a oportunidade que o Pai Maior nos concedia, incitei os presentes a fazer uma reflexão sobre o quanto nós, os filhos, temos trilhado nos caminhos traçados por ela. Convoquei todos a lançar aos céus rosas imaginárias, carregadas de amor e gratidão. Roguei a Deus permitisse que a espiritualidade (anjos da guarda), a serviço de Jesus, recolhesse todas elas, juntasse uma a uma e em forma de buquê lhe entregasse em nosso nome.
A emoção tomou conta de todos. O amor que nos une é muito grande e naquele momento tivemos o amor multiplicado. É incrível o poder do amor, da oração sincera.
Naquela manhã de domingo vivemos muitas emoções. Sentíamos a presença da mãe querida entre nós. Pairou no ar um perfume suave e uma voz comovida, que passava pelo meu pensamento, dizia:
- Obrigada pelas flores!
Resido em Umuarama, Paraná, e minha família no Mato Grosso do Sul, na capital Campo Grande. Voltei para minha terra há um mês. Escolhemos, minha família e eu, ir pela estrada que corta o noroeste paranaense pela Ilha Grande, um manancial de fauna e flora protegidos pela União. A rodovia que corta as ilhotas é uma beleza. De perfeita manutenção e conta com três belas pontes, que fazem a travessia do Rio Paraná, construídas depois da ponte Airton Senna, que é a outra opção de viagem. Saímos por volta das dez horas da manhã com intenção de almoçar em Dourados (MS), em casa de uma prima.
Uma hora depois da saída percebi o interesse das crianças observando os campos onde um ou outro bicho se deixava ver entre as folhas das árvores, nos galhos menos escondidos ou passando rápido na estrada frente aos nossos olhos. Quando isso ocorria era preciso frear o veículo, pois os animais circulam livremente nesse trecho, por isso há sinalizações nos mais de duzentos quilômetros de estrada prevenindo os motoristas. A Ilha Grande é uma estância ecológica preservada onde animais em extinção ainda conseguem manter-se no seu habitat natural.
Um veado cortou o espaço com um pulo bem próximo a nós, enquanto permanecíamos parados na saída da primeira ponte, tentando pegar torre para falar ao celular. A cena permanece em nossas mentes, pois foi de tirar o fôlego. O veado normalmente tão arisco veio vindo em trotes pausados e de repente deu salto no ar e passou entre o grupo há poucos centímetros da minha caçula, que gritou eufórica:
- Ele não tem medo de mim! Rimos todos emocionados, mas meio nervosos. Realmente uma cena cinematográfica.
A natureza é prodigiosa na divisa dos dois estados. Uma infinidade de animais passeia enquanto as pessoas viajam, como se não se incomodassem com a presença de intrusos. Ao longo da estrada, os ribeirinhos que moram nas imediações do rio, são vistos de longe em seus botes de pesca, próximos de pequenas habitações. Lá em cima um pontinho se mexe descendo o rio. Pontinho que aos poucos vai crescendo, levantando ondas maiores até chegar bem perto, de onde é possível ver os respingo d’água sendo jogados pelo vento. Na lancha quatro homens viajam com os cabelos revoltos sem a mínima preocupação com o sol que lhes banha as faces. Eles passaram por baixo da ponte e de nós. Estávamos na ponte mais alta das três, a que cobre o canal por onde navegam grandes navios, transatlânticos.
As cenas comovedoras ainda estavam frescas em nossas cabeças quando passamos por um acampamento de Sem Terras, ao largo da estrada. Centenas de casinhas feitas de varas e cobertas de lonas pretas a pequena distância umas das outras (ao longo do caminho vimos muitos outros acampamentos nos dois estados).
- Eu acho que o prefeito tinha que dar casas para essas pessoas morarem nas cidades, mãe; aqui não tem escola, não tem parque, não tem sorvete e as crianças precisam de tudo isso, disse Victória, do alto dos seus sete aninhos, muito bem informados.
Rimos todos e concordamos com ela. O sol ia alto e estávamos precisando tomar líquido gelado. Fizemos a parada para o suco que tínhamos em uma grande garrafa térmica.
Almoçamos com a prima e depois de um curto bate-papo seguimos viagem sentido capital. A rodovia que transitamos a partir daí é a mesma que leva toda a safra do Estado para o Porto Paranaguá, no Paraná. Muito movimentada, por onde trafegam pesados caminhões e carretas. A mesma rodovia corta todo o estado do Mato Grosso ligando o Sul ao Norte do Brasil.
Estávamos a menos de 120 quilômetros de Campo Grande quando meu marido foi multado por ultrapassagem perigosa. Não adiantou a alegação de que o motorista da carreta que vinha à frente havia dado espaço, saindo pelo acostamento, para que os veículos que vinham atrás a ultrapassassem. Peguei o volante e em silêncio fizemos o resto do trajeto.
Campo Grande é uma bela cidade, muito bem planejada. Como quase todas as cidades do estado. A Cidade Morena é aberta, de largas avenidas de mão dupla muito bem arborizadas. Com cerca de um milhão e meio de habitantes, a capital é bem distribuída com pontos turísticos muito bacanas. Dentre eles, o Horto Florestal onde estão expostas obras de artistas plásticos com motivos pantaneiros. O córrego Prosa, que corta a cidade é, em toda sua extensão, acompanhado de via rápida, construída para desafogar o trânsito do centro nos horários de picos. Campo Grande é considerada a cidade de maior número de veículos por habitantes no Brasil.
Na casa do meu pai há uma loja-museu, pois ele é artesão e não para de trabalhar. Sempre que chegamos há muito que conhecer. Além de artesão, meu pai é músico e constrói os instrumentos que toca (harpa, violino, viola, violão - tudo o que tem corda; teclado e sanfona). Ele participou recentemente de um projeto da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, expondo seus trabalhos durante uma semana em uma feira, ao lado de artistas renomados. Isso abriu muitas portas para ele, pois teve ampla divulgação televisiva. Depois disso, meu velhinho passou a dar aulas de música para seus clientes.
Muitas surpresas nos aguardavam na casa do meu pai. A maior delas foi a reunião de domingo. Dias antes eu comentara com uma das irmãs, que deveríamos fazer o Evangelho no Lar em intenção da alma de nossa mãe, que partiu há mais de vinte anos para a Pátria Espiritual. Meu pai, sabendo da conversa, levou a idéia adiante convidando todos os filhos, noras, genros, netos, bisnetos, sobrinhos, tios e o que foi possível convocar em poucos dias. O evento aconteceu lá mesmo, na casa dele, no domingo de manhã, poucas horas antes da viagem de retorno para casa.
Colocamo-nos em círculo e alguém me pediu para fazer a abertura e prece. Fui pega de surpresa porque geralmente são os anfitriões que dirigem o Evangelho; uma emoção fora do comum tomou conta de todo meu ser e com voz trêmula, embargada de emoção, iniciei a tarefa rogando a Deus nos facultasse o amparo e fui aos poucos elaborando a fala, lembrando a importância que teve a mãe, em nossas vidas. À medida que falava alguma coisa acontecia no meu interior e aos poucos fui me deixando levar pelo calor que provinha de algum lugar no espaço, enquanto uma serenidade imensa me acalentava a voz. Lembrei aos presentes dos exemplos de dignidade e justiça com que ela pautou sua vida; da sua inteligência e brandura; do caráter benevolente que sempre teve, do cuidado e delicadeza que tinha ao tratar o semelhante. A caridade foi a sua marca maior e sendo assim, aproveitando a oportunidade que o Pai Maior nos concedia, incitei os presentes a fazer uma reflexão sobre o quanto nós, os filhos, temos trilhado nos caminhos traçados por ela. Convoquei todos a lançar aos céus rosas imaginárias, carregadas de amor e gratidão. Roguei a Deus permitisse que a espiritualidade (anjos da guarda), a serviço de Jesus, recolhesse todas elas, juntasse uma a uma e em forma de buquê lhe entregasse em nosso nome.
A emoção tomou conta de todos. O amor que nos une é muito grande e naquele momento tivemos o amor multiplicado. É incrível o poder do amor, da oração sincera.
Naquela manhã de domingo vivemos muitas emoções. Sentíamos a presença da mãe querida entre nós. Pairou no ar um perfume suave e uma voz comovida, que passava pelo meu pensamento, dizia:
- Obrigada pelas flores!
Irami Gonçalves Fernandes Martins