Crônicas da Esquina ( Figurinha Carimbada )
FIGURINHA CARIMBADA
Ei-lo que chega! Ao longo da minha vida, sempre associei essa expressão à boa chegança, aquela que é prazer e vem somar-se a outras que, por uma simples questão de tempo, chegaram primeiro. A própria intransitividade do verbo atesta o que digo. Verbo inteiro, dispensa comentários que lhe dêem significação. É como diz o povo em sua atávica sabedoria: chegou, tá bem chegado!
O fato é que ele chegou. Calmo e leve, veio. A barba branca, o boné como parte integrante de sua anatomia e a pasta. A ausência de um desses apetrechos causaria dificuldades em reconhecê-lo. O rosto revela as rugas dos que andam pela casa dos cinqüenta. Óculos absolutamente necessários e o sorriso provocado pelo prazer de encontrar seus amigos. Cumprimenta a todos como quem afaga uma jóia rara e põe seus olhos sobre os olhos de todos. É transparente em sua sinceridade e afeto.
Meu nobre amigo é tão ingênuo em sua crença na irrestrita bondade humana que, se ele fosse dois, dos dois ele ainda seria o mais ingênuo. Mas também não liga. Ao contrário, ri até. A vida já lhe é o bastante. O ar em abundância é mais que suficiente para oxigenar-lhe o espírito que se coloca acima de tudo.
Vem de longe e, como um arauto, aponta-nos programações imperdíveis que se oferecem, quase sempre gratuitas, em centros culturais, museus e bibliotecas do Centro e da Zona Sul. Da sua pasta-cartola não saem coelhos, mas abundam convites para exposições e shows; folderes diversos e livros. Estes, mais ecléticos: filosofia, crônicas, biografias, poesias. E lê como quem busca as respostas certas para as suas incertezas muitas.
Gosta de cerveja, do Flamengo e dos amigos. Mas por estes, abdica daqueles, se necessário. Educado, não se senta à mesa sem ser chamado. Faço-lhe o gesto que ele, sorridente, agradece. É como se eu dissesse: “ Pode sentar-se, amigo”. Como a Irene do Bandeira, também ele não precisa pedir licença. Evoé Baco!
Aldo Guerra
Vila Isabel, RJ.