O engano na redenção...
O engano na Redenção
Naquele dia estava muito gelado, era inverno em Porto Alegre. E o inverno em Porto Alegre é um frio terrível, varia entre 4 a 10 graus e tem um vento cortante que invade todos os espaços descobertos. Arrumei meus cabelos loiros e me enrosquei em várias roupas de lâ, vesti um jeans que delineava as minhas pernas e deixava meu traseiro empinado. Pensei no caminho com menos vento, pois teria que atravessar ou rodear o lado externo de um parque conhecido como Redenção para ir à minha escola. Estava escuro ainda... Havia um vento minuano que arrastava tudo ao redor de nós e doía em cada pedaço de pele sem agasalho.
Às seis horas cinquenta minutos, sai do meu prédio, silenciosamente, pois havia um sindico insuportável que vivia controlando os moradores. Segui pela Avenida João Pessoa, resolvi não cruzar a Redenção, era um tanto perigoso naquela hora. O barulho incessante dos carros zunia na minha cabeça enquanto caminhava perdida em meus tormentos particulares. Sentia a ventania cortar a minha pele e revirar meus cabelos transformado-os numa mixórdia, talvez horrorosa, quando ouvi uma voz melodiosa perguntar:
- Que horas são? Me deu uma vontade de responder que oração é na igreja, babaca!! Mas, fiquei com um pouco de medo e podia ser um aluno ou alguém perigoso. Ou os dois juntos... E a voz continuou insistente:
- Que horas são, gatinha?? Nossa!! Agora, sou gatinha... Levantei as duas mãos e mostrei que eram sete horas. E a voz melodiosa, em tons de gozação, falava no maior deboche:
- De costas, não!! Ri, internamente, então ele quer me olhar de frente?? Continuei andando e me equilibrando nos meus saltos finos e na minha jeans de marca. Pensei... Já passei por esta história, se olhar vou desiludi-lo... Mas, adorava este tipo de situação, era uma diversão... Então com muito cuidado, virei o rosto, delicadamente, e vi o susto e o espanto estampados nos olhos bonitos do adolescente.
- Aie... Tia. Foi mal... Foi mal...
- Tia, não, meu filho... Qualquer coisa menos tia...
Isa Piedras ( 16/07/2010)