Meu Primeiro Dia de Férias

Cá estou. Quem diria, eu, plena quinta-feira, perto do final do maldito horário comercial sentado em meio aos mendigos da Praça da Sé com esse sol maldito na cabeça. É tudo tão maravilhoso ao ar livre em dia útil! Meus dias úteis maravilhosos têm data de extinção já pré-determinada. Férias. "Férias". Ai quando volta para aquela várzea de lugar vem as perguntas idiotas. "Viajou/descansou/aproveitou?". Retiro o "maldito" que coloquei ali em cima falando do Sol (com letra maiúscula). Retiro uma pedrinha da palma da mão. Por pouco não dei com a testa no chão de pedra portuguesa daquela praça imunda. Daí eu sentei lá naquela pirâmide que tem aquele treco prateado que gira em torno do próprio eixo se você o empurrar e fiquei amaldiçoando a minha sorte de não ter nascido com o talento suficiente em equiparação aos meus sonhos em me profissionalizar nesse tal esporte e salvar o meu rabo da entubação de patrões de inteligência mediana que pensam que acham que sabem gerir alguma coisa além do próprio ego de merda e tiram proveito de gente que não tem expectativa de vida nenhuma por ser acomodado ou preguiçoso ou fracassado ou por simplesmente achar que não é necessário ter expectativa de vida e que viver já é o bastante e basta e que aspirações à cargos mais altos e um carimbo novo não mudam realmente porra nenhuma na vida de ninguém porque o que importa é o que está dentro de cada um. Tem gente que acredita nisso. Bom, minha mão ardia e eu pensava nisso, olhando aquela galera toda engravatada entrando e saindo daquele prédio que eu nunca sei o nome. Advogados, juízes, delegados, a porra toda. Toyotas e a porra toda. O cheiro do dinheiro. Fico olhando uma loira toda de roupa social preta. Salto alto, meia-calça, saia. E ela tem puta rabo. Sabia mover bem as cadeiras. Ri pra mim mesmo. Devia ser por isso que ela estava saindo de uma crossover fodidona do ano. Mas a bunda era realmente hipnotizante. Alguns engravatados dão aquela torcida de pescoço assim que ela passa por eles. Tesuda e cheia da grana. Muitos vagabundos e muitos pilantras e muitos idiotas sonham com a mudança que uma mulher dessa pode fazer em suas vidas. Mas os espertos é que as possuem. Espertos. Tá. Continuei olhando o movimento. Não sei porque cargas d'água eu achava que dia de semana aquele lugar era deserto. Era um paraíso. Muita mulher de roupa social, muita ninfeta voltando e indo e cabulando o colégio que o papai e a mamãe bancam achando que a filha tá estudando e ela tá indo pra casa do amigo chupar uma ou duas ou três trolhas. Depois é só googlar o nome do colégio e colocar um "xxx" junto e lá estará a filhinha nota 10. Não estou generalizando, acontece. Só admirando e um morador lá com cara de usuário de crack encosta com uma rapariga grávida e pede dinheiro e eu falo que não tenho e que só tenho o bilhete único e penso naquela frase (sempre penso nela nessas ocasiões). Aquela: "tá passando necessidade? Por que não gozou na cara?". Muita maldade. Eu sei. Mas é a real. Ninguém vai me servir café da manhã quando eu acordo pronto pra enfrentar mais um dia de cão. Existem dias de cão piores. Todo mundo sabe. Sempre tem o vizinho com a grama mais verdinha e o vizinho com as ervas daninhas de três metros de altura. Mas eu costumo olhar pro meu próprio quintal. Mentira. Meus amigos lá do trabalho, respondendo e-mails. A mesma ladainha todo dia. Me dói o coração ver as aberrações, os erros, o assassinato da língua portuguesa. Ainda mais vindo de GERENTES DE BANCO que ganham DEZ VEZES mais do que eu. A ordem das coisas está invertida. Só pode. Ai chega meia dúzia de "pros". Caras que estouraram no mundo há dez anos atrás, quando adolescentes e ainda hoje continuam com a mesma cara das fotos de revistas empoeiradas que eu mantenho em casa. Daqui dez anos estarão com a mesma cara, enquanto eu tenho a impressão de envelhecer três anos em um. É a vida. Ainda não sei o que fazer. Como fazer. PORQUE fazer. Talvez 2012 me salve de tudo isso... Bah!

Com foto: http://www.fotolog.com.br/therapyrevenge/63945083

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 13/08/2010
Reeditado em 13/08/2010
Código do texto: T2434934
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