Se a vida tivesse valor
Viver está ficando cada vez mais complicado, e não é só por causa da correria do dia-a-dia, mas porque viver está gradativamente mais arriscado. Muitos dizem que o “futuro a Deus pertence” mas, não sei não, desde que Ele deu ao homem o “livre arbítrio” e algumas coordenadas a seguir, descritas nas Sagradas Escrituras, parece que Ele cruzou os braços e lavou as mãos, cada um que use o seu juízo em sua própria caminhada e, o que plantar, irá colher. A violência está cada vez mais presente e nos obrigando – se não formos fortes e com fé - a ficarmos ainda mais neuróticos, com medo disso, com medo daquilo. Mata-se por tão pouco! Muitas vezes, por nada. E não estou dizendo sobre algum valor pecuniário, ainda. Pelo contrário, em algumas situações a vida é somente um empecilho ao objetivo que alguém deseja alcançar; noutras situações, a vida é somente uma pedra no caminho; em algumas, um detalhe.
Trabalha-se tanto para conquistar uma boa posição social, com bom emprego, bom salário, a fim de se poder cuidar com o esmero necessário da família; tantos anos de conquista para num momento insignificante, um vagabundo, quase sempre drogado, ou motivado por esta substância, com a ambição de ter determinados objetos ou valores para si, no entanto, sem que para isso exerça o mesmo esforço daquele que conquistou – ou seja, do jeito mais fácil e covarde - ceife uma vida, num piscar de olhos. Quando ele puxa o gatilho a vida alheia não lhe preocupa, a sua própria, talvez, por mero instinto, mas a alheia não, é só um empecilho ao objeto desejado. O vagabundo – ou marginal, ou assassino, ou psicopata, etc... – está ficando ao longo do tempo mais precoce, como se anda dizendo por aí “começando cedo no crime”. É tão comum, infelizmente, vermos crianças – 11, 12...15 anos – já envolvidas em crimes que muitos adultos não teriam coragem de cometer. Aprendem cedo, cada vez mais cedo. Implicam seu futuro e o de outrem. Talvez, nem mesmo visão de futuro eles tenham, pois o próprio cotidiano os força a pensar em futuro como o daqui a pouco, no máximo o amanhã, e para tantos, já é muito, um privilégio. Já viu quem vive do crime envelhecer? Pois é! Porém, exclui-se deste pensamento os que praticam o crime do “colarinho branco”, no nosso caso a crônica é sobre os crimes com o emprego de violência direta.
No início, em sua concepção, era para ser apenas um meio de locomoção, uma forma de nos auxiliar no cotidiano, nos proporcionando percorrer grandes distâncias em menores espaços de tempo, e com conforto, porém, o automóvel, tornou-se uma arma letal, ofensiva, extremamente perigosa nas mãos de pessoas inabilitadas – no sentido de capacitação para usá-lo com responsabilidade. Mata-se mais no trânsito que em qualquer outro lugar, até mesmo mais que em Guerras, como as do Iraque e Afeganistão, só para mero efeito de exemplo. É um páreo duro, um prato cheio para os órgãos de estatísticas; onde há mais vítimas fatais? No trânsito ou na violência do cotidiano? Espera um pouco, dirigir com irresponsabilidade não pode ser considerado uma violência? Bom, põe em risco a incolumidade alheia, independentemente da forma, o resultado morte, por qualquer que seja a violência, gera as mesmas conseqüências para os familiares e pessoas próximas. Duvida? Vá perguntar! Ou espere para sentir na pele!
Certa vez fiquei estarrecido com a seguinte notícia: “Cozinheiro é morto por não fechar janela de ônibus no Rio”. A que ponto chegou a resolução de uma discussão banal e estúpida, onde o objeto era simplesmente fechar ou não uma janela? Isto seria motivo suficiente para se tirar uma vida? Ao menos para o indivíduo, autor do crime, que com certeza não estava num dos seus melhores dias, foi motivo mais do que suficiente para puxar o gatilho. Para ele a contradição à sua vontade não merecia outra solução, senão a de tirar a vida de alguém que só queria tomar um ar até chegar ao seu destino, e negou-se – no pleno exercício de um direito conferido àquele que ocupa o assento mais próximo à janela – a fechá-la. Neste dia, para a tristeza de seus familiares, ele não chegou em casa. Esta, como tantas outras mortes, tão banal quanto são as mortes oriundas de violência de trânsito. E, quando eu digo violência, não me refiro apenas àquelas decorrentes de acidentes causados por condutores que se julgam acima do bem e do mal, motivados a adotar uma conduta perigosa atrás de um volante, muitas vezes embriagados, por uma lei que exalta a impunidade. Infelizmente, não é só isso, estou me referindo ao fenômeno de mudança de personalidade, que afeta muitos condutores quando sentam em seus veículos, e transformam-se em verdadeiros “gladiadores do trânsito”. A eles é inconcebível ser ultrapassado, não ter a devida passagem - no momento em que, muitas vezes, somente ele julga ser apropriado -, levar uma pequena “fechada”, uma pequena esbarrada, mesmo que seja somente na porta, de leve, ou no para-choque numa eventual pequena distração. Enfim, estes e tantos outros já foram motivos suficientes de alguém tirar e de alguém perder a vida, que começa cair no comum, infelizmente. Incomum somente se for ao nosso redor, em nossa vida.
E quando não se tem a chance de nem ao menos cogitar a auto-defesa da vida? Quando alguém que, num ato imaturo, inconsequente e negligente gera uma nova vida e este mesmo alguém, com o auxílio de um “profissional” ceifa esta incipiente vida, que ainda está por vir, num crime chamado ABORTO? Há os que defendem, há os que são contrários, a lei por enquanto recrimina – na maioria dos casos-, mas aonde isso vai parar? Sinceramente, eu não sei. A esta altura, neste ponto desta crônica, até me pergunto se não foi um ato mais justo, do que deixar vingar tal sopro de vida e este vier no futuro tonar-se um algoz ou uma vítima das situações até então relatadas. Não sei, tudo é tão relativo.
São tantas outras situações que me fazem concluir: ainda bem que a vida não vale nada! Sim, porque se um dia a lei atribuir um valor, primeiro não será democrático ou isonômico; segundo, qualquer critério de tabelamento será muito subjetivo. Conforta-me saber que neste momento, minha vida vale tanto quanto a de qualquer magnata ou endinheirado por aí; ao menos perante a lei - ou em teoria -, nossas vidas têm valor zero, como todas as outras são imensuráveis. Pergunte a qualquer mãe de verdade, por mais pobre que ela seja, e que perdera um filho numa morte ocasionada de qualquer outro meio, que não a natural, o quanto seria possível pagar-lhe para que a dor inominada que sente desaparecesse. Já lhe adianto a resposta: nem com todo o dinheiro do mundo seria possível. Não se pode apaziguar um coração que sofre por uma perda com atribuição de valores pecuniários. Já imaginou se a vida tivesse valor? Já se é barganhada ou desconsiderada, imagina então se tivesse, seria muito mais fácil perdê-la. Guerras seriam mais justificadas, violência não seria punida com pena, mas tão somente com multa, seria mais desprezível do que realmente é hoje, mesmo não tendo valor econômico declarado.
Neste momento o nobre leitor deve estar se questionando, e me pergunta: a vida, então, não tem valor pra você? Eu lhe respondo: NÃO, ela tem significado! Se a olharmos fora do plano material, sob outro ponto de vista, só poderemos concluir que a temos por e para um propósito, cujo qual não entenderemos aqui, de posse dela. Para mim, todos os exemplos aqui narrados só nos servem para ajudar a compreender este significado ou propósito, e a darmos importância ao que realmente precisa ser dado, porque “para morrer, basta estar vivo”. Onde, quando e como? Não sabemos, e aí se funda este propósito maior, pois se tais respostas soubéssemos, nenhum aprendizado teríamos.
No dia em que se for atribuído valor pecuniário à vida, a primeira coisa a se fazer será dar um fim às Sagradas Escrituras, pois não haverá mais o que seguir, e sim simplesmente o que se pagar, e tudo ficará mais fácil em alguns aspectos, mas em outros...bem, isso é outra história. O importante é o valor que a vida de cada um tem para si mesmo. Só temos condições de amar o próximo se nos amarmos primeiramente, e nos amarmos não significa sermos hedonistas ou presos ao materialismo, pelo contrário, significa sermos humanos, solidários. Nossas atitudes externas nada mais são que os reflexos de nossas concepções internas. Não tem como ser diferente.
Pense em tudo isso e...viva! O valor da vida nós que damos, e cobramos.
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