Consumismo: não escolhe idade para atacar.

Dia desses estava eu tomando o meu café, tranquilo, sem me preocupar muito em pensar na vida, afinal, havia acordado há pouco. Minha sobrinha, já bem desperta, dirigiu-se até mim e após dar o bom dia, indagou-me, propondo-me o seguinte diálogo:

-Tio, o que você vai me dar no dia das crianças?

-Um abraço!

-Ah, isso foi o que meu também falou. Minha mãe me prometeu que eu vou ganhar um celular.

Você, leitor, deve estar se perguntando o que há de anormal nisso, não é? Pois bem, minha sobrinha tem apenas seis anos. Não aprendeu nem sequer a ler totalmente, não escreve de tudo e não domina ainda as principais operações matemáticas do cotidiano - soma, subtração, divisão e multiplicação - mas já quer trocar um presente lúdico, condizente à sua idade, por um aparelho eletrônico complexo, de uso inócuo face ao grau de seu desenvolvimento. Pois bem, de quem é a culpa? Do consumismo, eu acho. Um fenômeno social-comercial que ataca pessoas cada vez mais jovens, convencendo-as de que não serão felizes, ou partes de determinado grupo social, se não possuírem determinados objetos materiais. As fazem crer que sua felicidade depende da aquisição de determinados bens.

O Dicionário Aurélio diz que "consumismo" é um substantivo masculino, que denota um sistema que favorece um consumo exagerado; tendência a comprar exageradamente. Entenda-se "comprar exageradamente" como comprar além ou algo de que não necessita. No caso de crianças, tal fenômeno tem uma ação indireta, pois quem compra são os adultos de seu entorno, mas a vontade de TER é da criança, mas se ainda fosse só vontade, vá bem, o problema é que torna-se uma necessidade, uma obsessão, pois se não tiver o "tal produto ou bem", será diferente, inferior. Infelizmente, a sociedade favorece o aumento da diferença, pois segrega quem o é.

Questionei minha sobrinha, na intenção de demovê-la desta ideia, sobre o porquê de querer ganhar um celular no dia das crianças, e não um brinquedo, uma boneca, como sempre foi. Sem pestanejar ela me respondeu que era porque todas suas coleguinhas já tinham um, somente ela ainda não. E ela só tem seis anos! Como pode ser tão facilmente contaminada por essa ideia de que tem que ter o que os outros têm? O que acontece com as crianças de hoje, que cada vez mais cedo abnegam do lúdico ao tecnológico?

Sabe o que é o pior de tudo isso? Todos os pré-requisitos de desenvolvimento citados acima - ler, escrever, matemática - são prescindíveis à adaptação tecnológica das crianças. Elas aprendem com uma estranha facilidade e rapidez o manuseio destes aparelhos, que chega a assustar. Eu costumo usar um aparelho celular por cerca de três anos, para começar a pensar em trocar. Com a minha sobrinha, tenho certeza, que se for concretizado o ganho deste presente no dia das crianças, no próximo ano já será considerado obsoleto. Um novo aparelho será objeto de desejo, e ela terá apenas 07 anos! Para o consumista que não quer sentir-se inferior, não basta ter, tem que ser no mínimo igual ou melhor que o dos outros.

Particularmente, vejo com tristeza tal desejo por este objeto tecnológico. A infância é um período tão especial à formação do indivíduo. Nós adultos já somos diariamente bombardeados com estas ideias consumistas, que querem nos convencer de que se não adquirirmos determinados produtos, não seremos felizes, não seremos tão bons. Tentam diariamente nos convencer que precisamos do produto X, Y ou Z nas nossas vidas, que se não tivermos consciência vivemos e trabalhamos somente para ter, ter, ter...e agora, as crianças, cada vez mais cedo, tão prematuras e já contaminadas com essa ideia.

"Seria cômico, se não fosse trágico", já dizia a poeta, não é?

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Fabio Diaz Mendes
Enviado por Fabio Diaz Mendes em 13/08/2010
Reeditado em 22/01/2011
Código do texto: T2434798
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