Meu São José do quarto escuro
MENINO DA MINA
“Vali eu, meu São José do quarto escuro”.
No meu tempo de criança, às vezes que visitava a casa de minha avó lá na Rua de Baixo, ouvia sempre o seguinte lamento: -valei-me meu São José do quarto escuro.
Aquilo me intrigava!
A casa era cheia de quadros de Santos de devoção da família pendurados na parede da sala de visita.
Havia quadros de São Sebastião, Senhora das Graças, Santo Antonio, São Geraldo, Anjo São Miguel, Santa Cecília.
No altar da sala de vista havia imagem de Santa Cecília muito prestigiada,devido a quantidade de músicos que tinha na família. Havia também imagem de Senhora das Graças, Santa Rita e São Geraldo.
Sempre eu questionava!
Porque São José do quarto escuro?
Ficava curioso tentando obter alguma resposta. Afinal quem era o São José do quarto escuro?
Onde estava sua imagem?
Onde estava o seu retrato?
O porque do quarto escuro?
Até que um dia, ouvi de uma tia a seguinte história:
-um rico da cidade fez uma promessa a São José e alcançou uma grande graça. Em troca, resolveu a bancar a festa do glorioso Santo.
São José era um santo que tinha muito prestígio no ceio da igreja católica por ter sido esposo de Maria e pai adotivo de Jesus.
Alguns padres da época durante a homilia, diziam que Jesus sempre o obedecia. “Tudo que alguém pedir a São José ele manda e obriga a Jesus fazer”.
Eu ficava confuso.
Na Matriz do Rosário havia uma bela imagem do Santo que ficava no trono superior do altar lateral. O altar era muito bem ornamentado com flores brancas e lírios.
As flores exalavam um perfume gostoso.
Era o local mais cheiroso da Matriz.
Em frente do altar os devotos rezavam o terço, ladainha e orações reivindicando bênçãos.
Cantava-se no intervalo de cada oração, o famoso hino; “lembrai-vos São José, oh! Protetor querido...”.
O mês de março estava próximo. Era o mês da grande festa.
Certa manhã, assim que a zeladora entrou na Igreja, encontrou tal imagem em pedaços próxima ao altar.
Aquilo causou consternação.
Como faltava pouco tempo para a festa, foi necessário convocar com urgência o Santeiro Alfredo Duval para restaurar ou fazer outra imagem.
O Santeiro aceitou a incumbência e em poucos dias uma nova imagem ficou pronta.
Aconteceu um fato inusitado.
A imagem foi esculpida com as botas trocadas.
Um parente do Santeiro que serviu de modelo para a tal escultura, havia calçado as botas da seguinte forma: bota esquerda no pé direito e vise-versa.
O Padre notou o erro e mandou cobrir o andor do santo com lírios brancos de forma que as botas não aparecessem.
Tudo transcorreu normal.
Novena, missas procissões e leilões foram realizados.
Assim que a festa acabou, a imagem foi transportada para a igrejinha velha do Bairro Campestre e confinada na sacristia.
A sacristia tinha pouca iluminação. Por tal razão o Santo recebeu o nome de São José do quarto escuro.
Os devotos do Santo passaram a frequentar a sacristia da Igrejinha.
Assim iniciou a devoção que espalhou por toda a região do Mato Dentro.
Com a criação da Companhia Vale do Rio Doce em Itabira, houve grande migração de pessoas em busca de emprego.
Muitas chegaram a cidade apenas com a roupa do corpo, e nas bagens muitos filhos.
Construíram casebres de pau a pique e cobriram com capim nas imediações do antigo Explosivo e Santana, o local foi denominado “Acampamento de Capim” por muitos anos.
A dificuldade dos tais moradores era muita, faltava-lhes de tudo. Mas havia esperança de fichar na mineradora.
Muitos recorreram ajuda do Santo.
A Igrejinha antiga do Campestre tornou-se local de peregrinação em busca do milagre tão esperado.
Fichar na Companhia.
Alguns alcançaram a tal graça.
Pedidos foram feitos ao Santo. Orações regadas de promessas muitas vezes foram ouvidas naquele local:
Meu São José do quarto escuro
Vali eu, São José do quarto escuro.
Alumia a cabeça do dotô.
Atende eu.
Pra Izé entra na compania.
Vali eu, São José do quarto escuro.
Lêm casa, não tem nada pra cumé
To passando dificulidade meu Santo.
Ocê é pai de Jesus.
Eu sei do seu podê.
Tudo que ocê mandá
ele vai obedece!
Assim Pade José falou.
Oia, eu prometo de acendé um tantão de vela de abeia
pra alumiá ocê.
Eu prometo faze um altarzão na nova igrejinha
do Campestre pra coloca ocê.
Incher ele de liro branco
pra ti enfeita.
Eu prometo, subi o pico do Cauê, e lá de cima,
grita bem alto pra todo mundo
que ocê valeu eu.
No dia primeiro de maio, fazé
uma baita de procissão.
Convidá toda gente da mina,
enfeitá toda a rua, de bambu e bandeirinha,
finca um monte de bananeira.
Vai ficar igualzinho o arraia do pau fincado,
mas não liga não.
Tudo é pra alegra ocê.
Vou mandar faze um andô bunito, pra
te carregar.
chamar a Banda Santa Cecília pra tocá.
Na rua do Campestre e Berra-lobo.
vou cantá com alegria,
essa linda cantiguinha.
Lembrai, oh! São José
meu protetó querido.
Vali eu São José do quarto escuro.
Eu prometo.
Ocê não vai arrepende.