Fechada para balanço
Fechada para balanço
Meus dedos deslizam sobre o papel. Escrevo palavras, palavras, mas me falta criatividade. A alma não está triste nem alegre. Não há mágoas também para fazer qualquer composição poética. Chego até a rabiscar figuras só pelo vício de pegar no papel e caneta. Dá vontade de escrever:" Fechada para balanço." Não há fonte de inspiração. Começo a ficar angustiada. Desço as escadas chego até à sala. Vejo no aparador uma garrafa de conhaque. Pensei:- Vou esquentar-me um pouco , quem sabe a inspiração não floresce?
Volto ao escritório. O papel ainda sobre a mesa, estático. As figuras que desenhei parecem sorrir para mim com ar irônico a desafiar-me. Se tivessem vida na certa diriam que sou péssima desenhista, mas tentariam ajudar-me, impulsionando meus pensamentos, impulsionando-me a escrever. Ouço então um rádio bem alto na vizinhança a estrondar-me os ouvidos, embaraçando os meus pensamentos. Nova pausa! Pego de novo o papel e ali estão as figuras desenhadas. Observei que sâo inúmeras e, para mim, para mim, heim leitor, têm fisionomia de tragédia e de ironia. Já sei!- Tragédia e ironia serão o tema de minha próxima composição. Começo a criar imagens, o pensamento parece querer voar ao encontro da inspiração. Novamente sou interrompida, com alguém batendo à minha porta. -Tá difícil! Já começo a ficar com raiva, no entanto, aprendi que a raiva é nociva para nós mesmos. É, acho que vou escrever sobre a raiva e suas consequências. Será um artigo interessante que poderá servir de ensinamento para os que vivem em briga consigo mesmo. É isso aí.
Com meus pensamentos se formando, peguei de novo no papel , amassei-o e tirei uma outra folha da minha escrivaninha ávida por escrever. Quando estou pegando na caneta, entra meu filho pela porta gritando:- Mamãe, mamãe, visita surpresa para você! Amasso o novo papel e penso alto:- Vou fechar para balanço!