Lagoa do Fogo
Muito se tem dito, escrito e escreve e decerto se escreverá e dirá sob várias formas acerca do que se achou ou achará do que a Lagoa do Fogo foi, seja ou será do ponto de vista geológico, histórico ou mesmo poético ou outro que não nos passa agora pela cabeça.
Mal o vulcão acalmou, foi lugar de cabreiros, seres temidos pelo comum da população, pelo seu contacto íntimo com o segredo das ervas e o poder do oculto.
Já em plena época romântica, a partir do século XVIII, primeiro os estrangeiros, depois a fidalguia local, fizeram dela o terceiro vértice do triângulo de pontos a visitar: Caldeiras, Caldeira Velha e Lagoa do Fogo.
Nos séculos XX e XXI, além de todos já lá irem, indígenas e forasteiros, velhos ou novos, tornou-se numa etapa de um ritual de virilidade para adolescentes ou em uma oportunidade de encontro face a face consigo mesmo.
Porém, a Lagoa do Fogo, vista por nós do lado Norte do maciço da Água de Pau, poderá oferecer-nos uma lição de vida traduzida em dois tropos.
Um primeiro, engendrado no binómio violência e paz;
Haverá quem, enquanto descansa sem aflições o olhar na serenidade paradisíaca, não consiga evitar pensar na próxima erupção: tal qual muitos dos seres humanos que aqui moram.
Um segundo, urdido de surpresas;
Enquanto espaço que se esconde ou se revela ora envolto em neblina ora aberto num sol radioso ou pálido ora apenas entreaberto deixando perceber os seus contornos: tal qual nós no nosso dia a dia.
Alguns de nós, serão como a Lagoa do Fogo, no encobre e no descobre, no silêncio e no ruído na paz e na violência. E, enquanto, se vive um e se espera o outro: vivemos.
Daqui correm a encher os nossos olhos, a beleza de cortar o fôlego, o silêncio sepulcral de cova e o barulho ensurdecedor das gaivotas?
Caberá a cada um de nós, dar a resposta.
Mário Moura
Junho, 29de 2010