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Os olhos de Mirna
Seus olhos eram belos e enigmáticos. Desde que nascera a pequena Mirna, apesar de seu estranho nome, hipnotizava a todos com a profundidade do seu olhar. Quem o fitava ficava temporariamente absorto, enlevado pelo seu brilho furta-cor, tentando decifrar as mensagens que deles emanavam.
Tal como uma moderna Medusa, ela crescera povoando o imaginário dos homens que dela se aproximavam. Não era apenas a cor de suas íris, que vagueavam entre o castanho-mel até o verde-acinzentado, dependendo do ângulo de visão do espectador, numa combinação de cores aparentemente improvável, mas sim o mistério impactante que se descortinava à mente por eles interceptada.
Mirna se tornara consciente do fascínio que exercia. Nem era por demais bela, mas o poderio de seu olhar superava qualquer outra deficiência que apresentasse. Tais deficiências, aliás, se revelavam por deveras preocupantes, tais como uma certa insensibilidade para os problemas alheios e uma frieza desmedida para com os menos esteticamente favorecidos.
A arrogância e a frivolidade passaram a lhe acompanhar...
Mas... Existem coisas na vida que mereceriam ser sempre contempladas: a beleza do pôr-do-sol, do arco-íris, do mar, da natureza... Os olhos de Mirna... Mas não deveríamos nos deixar cegar pelo reflexo solar, bem como pelo visgo penetrante de um fitar de olhos. A beleza pode ser perigosa, assim como o mar pode tragar o pescador mais experiente.
Naufragar nos olhos de Mirna... Bela e perigosa maneira de submergir!
Porém, quem se deixa naufragar não retorna para contar a história nem desfruta uma segunda chance. E aquele antigo provérbio alemão, já antes repetido por Milan Kundera, “einmal ist keinmal”, “uma vez não conta, uma vez é nunca”, já nos alerta quanto à validade dos riscos.
Cuidado com os “olhares de Mirna” com os quais porventura venha a se deparar! Admirar e tão somente, mas sempre a uma segura distancia, à prova de qualquer insana hipnose... Nosso maior desafio!
Obs: Machado de Assis (1839-1908), talvez o maior nome de nossa literatura, já em 1899 nos apresentava Capitu, com "seus olhos de cigana oblíqua e dissimulada"...
Os olhos de Mirna
Seus olhos eram belos e enigmáticos. Desde que nascera a pequena Mirna, apesar de seu estranho nome, hipnotizava a todos com a profundidade do seu olhar. Quem o fitava ficava temporariamente absorto, enlevado pelo seu brilho furta-cor, tentando decifrar as mensagens que deles emanavam.
Tal como uma moderna Medusa, ela crescera povoando o imaginário dos homens que dela se aproximavam. Não era apenas a cor de suas íris, que vagueavam entre o castanho-mel até o verde-acinzentado, dependendo do ângulo de visão do espectador, numa combinação de cores aparentemente improvável, mas sim o mistério impactante que se descortinava à mente por eles interceptada.
Mirna se tornara consciente do fascínio que exercia. Nem era por demais bela, mas o poderio de seu olhar superava qualquer outra deficiência que apresentasse. Tais deficiências, aliás, se revelavam por deveras preocupantes, tais como uma certa insensibilidade para os problemas alheios e uma frieza desmedida para com os menos esteticamente favorecidos.
A arrogância e a frivolidade passaram a lhe acompanhar...
Mas... Existem coisas na vida que mereceriam ser sempre contempladas: a beleza do pôr-do-sol, do arco-íris, do mar, da natureza... Os olhos de Mirna... Mas não deveríamos nos deixar cegar pelo reflexo solar, bem como pelo visgo penetrante de um fitar de olhos. A beleza pode ser perigosa, assim como o mar pode tragar o pescador mais experiente.
Naufragar nos olhos de Mirna... Bela e perigosa maneira de submergir!
Porém, quem se deixa naufragar não retorna para contar a história nem desfruta uma segunda chance. E aquele antigo provérbio alemão, já antes repetido por Milan Kundera, “einmal ist keinmal”, “uma vez não conta, uma vez é nunca”, já nos alerta quanto à validade dos riscos.
Cuidado com os “olhares de Mirna” com os quais porventura venha a se deparar! Admirar e tão somente, mas sempre a uma segura distancia, à prova de qualquer insana hipnose... Nosso maior desafio!
Obs: Machado de Assis (1839-1908), talvez o maior nome de nossa literatura, já em 1899 nos apresentava Capitu, com "seus olhos de cigana oblíqua e dissimulada"...