A "COISA BRANCA"

Ela lê no sofá da sala. De repente, o ruído na cozinha. Ué, o que será? Parece alguém rasgando um papel. Mas é claro que não é. Quem rasgaria papel na sua cozinha à meia-noite? Esquisito. Chi! É medrosa. Não vai ter coragem de ir lá. Pelo menos se o dia já estivesse amanhecendo... Ah, mas e dormir pensando no barulho? Jamais! Não vai conseguir. Decisão: vai chamar o vizinho. Afinal ele vive oferecendo “Dona Cátia Cilene, precisando, dá um grito, viu?” Isso! Ela vai dar um gritão, e é agora!

Ah, peraí! Não, não vai chamar vizinho nenhum! Que vergonha acordar os outros a essas horas por causa de um barulhinho na cozinha. Ladrão não é. Tem certeza. Pode ser um rato. Aiiiiii!!! Nesse caso é pior que ladrão! Arrepia só de pensar no bicho horrendo, olhinhos buliçosos, bigodinho tremendo. Quem sabe, uma barata? É, pode ser uma baratona nojenta daquelas que saem pra dar um giro na “night” e ficam saracoteando por tudo que é canto da casa. Bom, se for uma barata? Nada de vizinho. Funerária de vez! Ui, que pavor!

Sabe de uma coisa? Seja rato, barata, o diabo a quatro! É agora que isso se resolve. Vai lá agoraaaaa! Encaminha-se decidida. Empurra a porta e... Aiiiiii!!! Na penumbra, algo branco, grande e redondo rola pelo chão. Jesus, quê isso? Não tem tempo de pensar. A “coisa branca” levanta voo e vem em sua direção. Apavorada, bate a porta. Voa pra sala e se tranca. Agora não tem dúvida. Vai mesmo ligar pro vizinho. Cruzes! Que susto!

O vizinho é nota dez! Nem bem ela diz “Seu Valdir, pode vir aqui?” ele já tá lá. E armado! Perigosamente armado com um possante cabo de vassoura e um pano de chão. Cabo de vassoura e pano? Sim, era do que dispunha no momento. Fazer o quê? E vamos lá que não há tempo a perder. Exterminar logo esse monstrengo ameaçador da paz de dona Cátia Cilene...

Um, dois, três! De supetão, Seu Valdir abre a porta da cozinha. Acende a luz. Hum, lá está a “coisa branca”. Repousa quieta aos pés da mesa. Seu Valdir exclama triunfante “Ô dona Cátia Cilene! É só uma sacola de supermercado!”. Ela titubeia “É?... Ué, mas voou em cima de mim!”. O vizinho e a cara de riso “Voou mesmo?”. Droga! Ele não acredita! Será que pensa que ela é doida?

De repente, sem mais nem menos, o invólucro plástico se desloca. Velozmente parte, dessa vez, pra cima de seu Valdir. Opa! E não é que voa mesmo? Bom, mas e daí? Ele tá armado: e lá vai uma boa “panada” bem no alvo. Desnorteada, a sacola recua. Uma alça agarra no espaldar da cadeira. Surpresa! Meio tonto, um misterioso ser alado escapa pela abertura! Dá umas piruetas errantes. Cabeceia, bate nas paredes. Zumbe perigosamente nos ouvidos de Cátia Cilene... Depois, exausto, vai pousar na lâmpada... Ô, até que enfim... A “coisa branca” é só um marimbondo preto...