Olha a sacanagem!

Não. De costas, não. Sei que sugerir faz parte, que meu desempenho vai melhorar com a prática. Mas prefiro começar com o básico. Só de lembrar da vergonha no casamento da prima Aidê já sinto o rosto queimar. Que patifaria a minha! Só mesmo algumas doses de tequila pra expor meu “corpinho” fora de forma sob tanta luz. A prima por pouco que não me afogou de raiva, coitada. Mas coitada de mim também: uma solteirona, bêbada, com os sentimentos à flor da pele, numa festa de casamento. Eu tinha que liberar minha energia de alguma forma. Pois não é comendo que se mata a fome? Quando vi Abelardo sozinho perto da piscina nem pensei em nada. Só me lembro de ter tirado o vestido. Queria tanto ser notada que até esqueci da minha falta de habilidade no assunto. Afinal Abelardo era o que mais investia no negócio da família, e todas as meninas queriam ser sua preferida. Mamãe sempre trabalhou no ramo. Dizia que fazia bem pro corpo, e até pra alma, então se pudesse ganhar dinheiro também, estaria perfeito. Era dona de dois clubes na cidade e muitas garotas que hoje estão arranjadas na vida começaram aqui com ela. E ela faz questão de me jogar na cara, a minha falta de desenvoltura. Agora olha a sacanagem: to pagando um profissional de fora pra praticar comigo o que as primas praticam desde meninas. A esta altura nem fará tanta diferença, mas vou pagar pelos teus serviços pra ver se consigo impressionar Abelardo. Sei que ele aprecia moças com boas performances, mas mesmo assim, hoje vou querer só o indispensável. De costas, não. Pra esse negócio de natação tem que se começar cedo!

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 10/08/2010
Código do texto: T2429480
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