A árvore e o banco... o rapaz e o engraxate.
A árvore e o banco... o rapaz e o engraxate.
Era uma vez, uma árvore que ouvia, falava e dava sua sombra e proteção para um banco que, também, ouvia e falava.
A árvore, grande, com raízes profundas e o banco, que podia abrigar umas três pessoas, moravam em uma praça, localizada na região central de São Paulo, capital do estado do mesmo nome, no Brasil.
Por ser mais velha e por ter ouvido e visto mais, a árvore possuía mais sabedoria e cultura. O banco por sua vez, por ter o privilegio de estar mais perto das pessoas, tinha ganho um pouco mais de sensibilidade. Era mais sensível e respeitava muito a árvore.
Em determinados dias e noites, eles permitiam que fossem ouvidas as suas conversas, e procuravam falar com as pessoas que estavam sentadas ou perto do banco. As vezes deixavam que todos ouvissem. Outras escolhiam só um.
Vamos então a algumas dessas ocasiões:-
Junho de 1.963.Uma tarde ensolarada e o banco, fresquinho, na sombra:
Um jovem, chega, senta e começa a ler um livro. Usava terno, gravata e o livro era o Velho e o Mar, de Ernest Hemingway.
O banco:- Vem vindo o engraxate de novo. Será que dessa vez ele consegue engraxar esses sapatos?
A árvore:- Consegue sim.
O engraxate: - Vamos dar um lustro no cromo?
O rapaz: - Hoje não.
O engraxate vai se afastando, com ar triste, quando a arvore e o banco resolvem fazer só o engraxate ouvir.
A árvore: - Volte. Pergunte a ele que livro esta lendo.
- O que você está lendo
- O Velho e o mar
- Ah! Muito bom. Já li. Gosto muito do Hemingway...
- É, você já leu? Conhece Hemingway? Diz o rapaz com espanto.
O engraxate tinha um ar muito simples e uma aparência de quem não gostava muito de livros.
- Sim, já li. É muito bonito, você vai gostar muito. É a história de uma linda amizade.
- Olhe, pensando bem e vendo melhor, meus sapatos estão mesmo precisando de graxa.
- É pra já! E começa a tirar as coisas da caixa para começar a engraxar.
O banco: - Se quiser pode colocar as coisas aqui, em cima de mim, para ficar mais fácil para você. Mas, me deixe limpo por favor.
O engraxate: - Pode deixar. Vai ficar limpinho.
O rapaz: - Que bom.
A árvore: - Muito bom!!
José Romeu