Sem cabelo, sem piolho.
Outro dia assisti uma cena engraçada, mesmo dentro de um quadro triste.
Um garoto de seis anos, vitimado pelo cancer, esta hospitalizado, sofreu uma cirurgia de grande porte para a amputação de uma das pernas.
Esta fazendo quimioterapia, para conter a doença.
Entro no quarto, la esta Pedro e sua mãe Eulalia, ele como sempre animadissimo, nunca vi criatura mais bem humorada, e falante que esse menino.
Ele abre um sorriso, que mais parece o sol, assim que me ve entrar.
Sentado em sua cama de hospital, ele tenta montar um quebra-cabeças de mais de cem peças.
Eu então pergunto: "Pedro como esta voce?"
Ele mais que depressa responde: "Eu to otimo tia, so querendo ir logo pra casa"
Respondo: "Pois é, mais vai demorar um pouquinho ainda, mas voce tem com que se distrair não é mesmo? Daqui a pouco chegam os contadores de historia, amanhã vem o grupo de cantores, com seus violões.
Ate o Joe (um lindo cão) toda quinta feira vem visitar voce, na sua casa não tinha tanta animação, não é mesmo?"
Pedro responde: " Olha tia, tinha não, aqui tenho ate banheiro com chuveiro, dentro do quarto. Na minha casa não tem não, banheiro é la fora, se ta chovendo a gente se molha, se ta frio, fica com frio, né mesmo mãe ?"
Dona Eulalia, responde que sim, bem mais quieta que Pedro, carrega a dor da doença do filho acomodada num espaço bem guardado dentro do coração.
Pedro continua sua operação de montar o grande quebra-cabeça, e ao mesmo tempo me conta muita coisa, é um tagarela sem igual.
Nesse momento a enfermeira Lucia, entra no quarto e diz: "Vamos la mocinho falador, hora do banho e dos curativos"
Para isso, ele não se mostra tão risonho, mas logo que a eficiente enfermeira começa, seu trabalho, Pedro faz uma carinha de quem acaba de descobrir algo bom.
E diz: "Sabe tia Lucia, agora tomar banho ficou mais facil."
A enfermeira pergunta por que Pedro ?
Ele com expressão de esperto responde: " Porque agora so tenho que lavar uma perna e um pé"
Não sabiamos nos tres mulheres ali presente, se riamos ou se choravamos.
E resolvemos rir.
Mas Pedro ainda não havia terminado suas tiradas pra lá de otimista.
Olhou a mãe com carinho e disse: "olha mãe, agora a senhora não vai mais precisar catar piolho na minha cabeça, nem passar vinagre para eles irem embora, pois não tem mais cabelo pra eles se esconderem."
E ria um riso gostoso e calmo.
E todas nos ali naquele quarto, tambem rimos, com a presença de espirito daquele menino alegre e valente.
Que é um presente e um lição a todos que passam por aquele quarto.
Pensei ao sair dali: Pedro deve ser a "Poliana de calças"