CAPÍTULO VI - Diário Poético-Sentimental de Uma Greve: Curiosidades, Emoções e Poesia na Greve do Judiciário Trabalhista Mineiro
VI
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos: o político vigarista, pilantra e corrupto, o lacaio dos exploradores do povo
(Bertolt Brecht)
Há um fato ocorrido na manifestação do dia 17 que eu não poderia deixar de registrar. Eu não me encontrava presente naquele ato, mas tomei conhecimento do ocorrido através de uma colega que lá esteve e que me relatou os acontecimentos.
A manifestação daquele dia se deu em frente ao prédio do Tribunal Regional Eleitoral, na Avenida Prudente de Morais e contou com cerca de 420 servidores. O fato marcante ali foi a presença de uma professora da rede estadual de ensino que por uma feliz obra do acaso transitava nas imediações da rua em que nos encontrávamos.
Após se apresentar ao movimento, foi lhe confiado o microfone. A professora relatou então que o movimento grevista dos professores estaduais mineiros já se estende por mais de 30 dias e que os mestres aguardavam que o governo estadual se abrisse para a negociação com a categoria. Entre outras coisas, discutia-se acerca do piso salarial que se encontra atualmente bastante defasado.
A professora alertou em seguida acerca da necessidade de se fazer greve e de se ocupar as ruas da nossa cidade, fechar-lhes o transito:
- “Façam barulho, fechem as ruas!”, repetiu ela com emoção.
(Essa palavra de ordem me fez recordar das palavras da diretora de base, a aposentada Lúcia Bernardes, à respeito do pronto atendimento da enfermeira ao entrar no berçário de um hospital: ela se dirigirá em primeiro lugar ao bebê que estiver chorando e pondo a boca no mundo. No final das contas – disse-nos ela - é muito perigoso permitir o choro de um bebê em um berçário. Isso pode fazer com que as outras crianças se despertem dos seus sonos e sonhos e dêem início a uma verdadeira “conspiração” infantil.
Essa é, inegavelmente, uma das funções e dos objetivos dos atos e manifestações da greve!)
A professora comentou ainda que em determinada época tivera um bom salário, mas que este viera decaindo e que se encontrava atualmente tão minguado que mal dava para ela pagar os estudos de sua própria filha. No final do seu discurso a mulher foi intensamente aplaudida pelos servidores presentes.
Chamou-nos a atenção tanto as suas palavras quanto a coragem com que se apresentou e manifestou o seu apoio ao nosso movimento. Em seguida o servidor Rubens Pinheiro da Cruz, o nosso conhecido e querido Rubinho que em todas as greves e manifestações sempre nos emocionou e nos brindou com a pujança de sua arte musical - fez um apelo para que os servidores do judiciário e do professorado mineiro se apoiassem mutuamente enquanto categorias irmãs de trabalhadores em busca dos mesmos objetivos: Justiça e Dignidade.