DEZENOVE

Quatorze de agosto! Completo hoje dezenove anos! Num retrospecto, numa rápida olhadela para trás, formulo um questionário de momento e não encontro respostas adequadas. Pessimismo? Desânimo? Fracasso?

Não sei, não sei. Digam o que disserem, vocês têm a razão. Humildemente assento-me no banco dos réus e aguardo silencioso a sentença.

Enfim, quem sou eu? O que fiz? O que quero? Para onde vou? E uma eternidade de perguntas invade-me a alma, flechando-me o coração abatido cada uma delas.

Dói-me confessá-lo, mas já não sinto o ardor pela luta, o fogo da ambição, a vontade de vencer. Caí, muita vez, ergui-me vezes mais ainda. De peito aberto expus-me aos duros golpes do destino, às tramas da vida, armado apenas com a simples vontade ferrenha de vencer. Vencer apenas, não importando a quem ou a quê!

Entretanto, como muitos, abalado pelas frustrações da vida, fustigado pelo látego impiedoso do destino cruel, cansado, oprimido, tombei por terra quase vencido.

Lágrimas de vergonha rolaram-me pela face emudecida, angústia infinita pressionou-me o peito ofegante.

Todavia, algo dentro de mim, no âmago do meu coração, no íntimo aconchego de todo o meu ser, sacudiu-me o corpo frenética e vigorosamente.

Era a fé que ainda não me abandonara, permanecendo, como serva fiel ao senhor abatido, no recôndito de minh’alma adolescente.

Um sorriso de confiança estampou-se-me no rosto marcado pelo sofrimento, um brilho estranho aflorou-se-me aos olhos injetados de mágoa, eu quis soerguer-me!

Os músculos retesaram-se, o sangue ferveu-me nas veias, nervos de aço impulsionaram-me as carnes mutiladas e ... levantei-me!

Tal qual fera mal ferida, atirei-me furioso à luta inglória, derribei muralhas, furei trincheiras, transpus barreiras, saltei obstáculos e, ofegante, pedi uma trégua.

Mas, no refrigério da pugna, eis que assaltantes satânicos, inimigos peçonhentos me atacaram traiçoeiramente. Ainda que tarde, pus-me em defensiva. Procurei inutilmente impedir a derrota. Ela veio, contudo, de maneira fragorosa.

Precipitei-me no abismo voraz em vertiginosa queda, tentando em vão agarrar-me aos arbustos da esperança. Mas eles me faltavam.

O abismo é profundo, a terra continua fugindo-me aos pés, meu corpo continua voando pelo espaço. Desanimado, espero pelo baque final!

Mas ..., oh Divina Providência! Meu bondoso Senhor! Já vislumbro a tábua de salvação nas trevas do precipício. Espera-me ela calma, segura e confiante. Tudo farei para não desapontá-la. Não posso continuar na queda, não posso!

Já me lubrifica os músculos o óleo para o impulso da volta. Pela mão do Senhor subirei novamente. Hei de levantar-me, para nunca mais cair! Assim o espero.

Ajudai-me, meu Deus! ...

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 14/08/58

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 10/08/2010
Código do texto: T2428769
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