EXCELÊNICIAS DA LEITURA

Sob todos os ângulos do conhecimento humano, a leitura plural se nos apresenta cheinha de grandes excelências. Talvez a maior delas seja a de nos possibilitar, não apenas a leitura de textos isolados, por meio dos vários tipos de linguagens, mas a chance maior de podermos realizar a interpretação do mundo.

Vocês e eu, todos nós, lemos o universo das mais diversificadas maneiras: lendo um quadro de Di Cavalcanti ou de Portinari, cantarolando uma canção do Chico Buarque, assistindo ao filme desentranhado de uma das obras de João Ubaldo, prestando atenção no semáforo da esquina ou interpretando um soneto da Florbela Espanca ou do nosso Vinícius de Moraes.

Os especialistas em linguagem, estudantes quando redigem os seus textos obrigados pela escola, professores, entendidos dos mais variados vieses têm se debruçado sobre a questão da importância da leitura. Não vou repetir o gesto, até por não combinar meu simples status de leigo com a proficiência de um psicólogo da linguagem. Ora, pois não, sim senhores! A linguagem, com certeza, possui sua muito particular psicologia.

Até com brevidade, nesta crônica entre topetuda e leiga, entre marruá e didática, vou apontar aqui somente algumas das excelências do ato de ler. Ler livros, jornais, revistas; ler quadrinhos, placas de ruas, o gesto de azedume no rosto dos semelhantes, isto também é leitura que fazemos empiricamente.

Lemos poemas, crônicas, contos e romances; lemos qualquer texto impresso como lazer e/ou prazer. E quem disse que não é gostoso pra chuchu a gente pegar um livro e fazer como o Vinícius que, na canção, diz com todas as letras: “... eu abro o meu Neruda e apago o sol...”?

Lemos para dialogar e/ou viajar nas páginas com o autor, no papo e na viagem mais prazerosos que um andarilho possa realizar aos mais lindos e distantes rincões do globo terrestre. Ora, joga-se conversa fora recriando as paisagens inventadas pelo escritor, agora na condição privilegiada de leitor, mas também co-autor da obra escrita.

Lemos para saber e/ou crescer bem mais, pulando por sobre a pequeneza do nada conhecer, quando muito em toda a vida utilizando-se de pouco menos que de duzentas palavras. Todo mundo está calvo de manjar que saber e crescer são ações que andam de mãos dadas, uma servindo de parceria muito aplicada à outra parte.

Lemos para refletir e/ou compreender, duas atitudes mentais umbilicalmente irmanadas. Tanto que só escreve quem pensa, quem reflete, a partir daí formando-se na cachola, até o texto material ir cair, sob a forma de preto, no lastro do papel branco. Acho mesmo que entendimento da reflexão levou Spinoza a deitar em tintas este pensamento de ouro: “Não rir, não chorar nem odiar, mas compreender.”

Sem dúvida que lemos, também, para nos informar e/ou aprender. Entusiasmado como o poderio deste verbinho mágico, Lênin, o revolucionário, pôs num livro de formação marxista um apelo muito explosivo: “Aprender, aprender e aprender!”

O ato benéfico e benfazejo de ler, meus amigos, vai florescer em suas falas acadêmicas ou não o melhor comunicar-se e assim vocês irão viver com e em plenitude, sem, como dizia o velho Chacrinha, trumbicar-se nem dar com a cara na porta.

O ato de ler, portanto, é uma progressão de progresso, e é mesmo. Ou vocês, distintos e curiosos ledores de tantas belas coisas, não têm interesse em progredir, já que a leitura nada exclui, mas tudo tem a ver com tudo? Por favor, infanto-juvenis escolares, já me respondam: vocês não desejam ser muito mais que alguém que só se expressa em tom assim: “E daí, cara, qual é, bicho?”

Fort., 09/08/2010.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 09/08/2010
Reeditado em 10/08/2010
Código do texto: T2428688
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