O AMOR E O PODER (OU O DESIGUAL E NÃO COMBINADO)
Desde a descoberta do fogo, o homem investiu-se de poder. Aquela rodinha de pessoas sentadas ali jogando conversa fora, riscando pedras no chão, de repente sai uma faísca, queima a mão daquele mais agitado, pois esfregava com mais força e ele vê e sente o fogo pela primeira vez. O chão, provavelmente cheio de gravetos e folhas secas, incendiou-se e a turma em volta, por ignorância completa, começou a reverenciar o felizardo como um ser dotado de poderes misteriosos. O cara passou a ter poderes que nem ele mesmo sabia, mas também não era bobo e soube tirar proveito disso muito bem. Estava inventada a submissão; o dominado e o dominador; o rei e o súdito; e o popular “quem manda e quem obedece”.
Daí para aquele tem e o que não tem foi um pulo. Nem é preciso voltar muito longe no tempo histórico: vejamos os casos das pirâmides do Egito antigo. Alguns homens já haviam se transformado em reis, com status de deuses. Mandaram fazer pirâmides de blocos pesadíssimos de pedras, algumas equivalentes a prédios de 10, 12 andares - sem guindastes nem carrinhos de mão. Somente para que fosse enterrado um homem e mesmo assim com todos acreditando que ele ressuscitaria, coisa que mais tarde, só Jesus teria conseguido sem precisar de nenhuma humilhação ou exploração de outro ser humano.
Enfim, acho que esse é o princípio da desigualdade social. E como o homem já sabia desde remotas eras que navegar era preciso, se espalhou pelo mundo e a maior prova disso é que há pirâmides no México, no Peru, na China e nos EUA, dentre as muitas descobertas mais recentemente. Isso bagunçou para sempre os instintos primordiais do homem que dá início com esse episódio, ao processo de civilização.
O poder e o dinheiro desvirtuaram tudo quanto é pureza de sentimentos. O que começa com uma emoção forte e verdadeira, tem que ser “enquadrado” na hora de estabelecerem-se relações humanas. O perde e ganha assume a ponta das conversações, intenções e palavras, senão é prejuízo na certa para uma das partes.
Os tais instintos humanos primordiais que era para evoluírem de instintos para sensações e daí para sentimentos - numa perspectiva cristã - perderam-se numa confusa definição do que seja fraternidade, amor e felicidade. O amor, por exemplo, tornou-se uma relação afetiva jurídico-administrativa. Aquela história de meu bem antes, meus bens depois, sabe?