A MEU PAI
Cadê o Luis que não chega!
Antes do meu pai partir para estar com Deus, esta era a frase mais ouvida na casa de meus pais nos dias de domingo. Domingo era o dia que reservava para visitar meu pai. Aquele homem, já alquebrado pelos muitos anos de labor e de vida.
Já velho, infelizmente, foi acometido de glaucoma. E como não havia recursos, acabou perdendo a visão alguns anos antes de sua morte. Mas, como tudo na vida tem o seu lado bom, foi esse o período em que estive mais próximo dele.
Domingo era dia de por a conversa em dia. Relatava para ele todas as novidades da semana, sobretudo da política. Conversávamos sobre a política local e nacional. Meu pai era muito atento às coisas da política, embora jamais tenha se candidatado a cargo algum. No entanto, tudo o que dizia respeito à política e aos políticos era assunto de seu interesse.
A conversa fluía tranquila enquanto lhe fazia a barba. Sim, era eu que fazia a barba de meu pai todos os domingos. Como eu gostaria, hoje, de estar fazendo a barba dele aos domingos, como o fazia há mais de vinte anos.
Enquanto fazia-lhe a barba e conversávamos. Muitas vezes, caía em devaneios – era impossível escapar -, pensando no pai quando era forte e trabalhava a terra. Ele sempre foi agricultor. Gostava de mexer com a terra e fazê-la produzir os frutos de que necessitávamos para a nossa subsistência.
Em meio às lembranças, dei-me conta do quanto estive afastado de meu pai na minha juventude. Naquela época, já tão distante, enquanto ele arava a terra, eu estava na escola. Pouco nos víamos. Nosso relacionamento era quase nenhum e, mesmo assim, muito formal. Só na minha maturidade e na velhice dele é que pude curtir o meu pai. E isto só foi possível, quando ele se tornou dependente de nós pra tudo. Esta foi a oportunidade que tive e, graças a Deus, não a desperdicei. Ficamos muito próximos um do outro. E isso foi maravilhoso.
Graças a Deus, repito, os poucos anos de proximidade que tivemos foram vividos com intensidade e com muito prazer. Afinal, era o meu pai que, mesmo por força da doença, se permitia deixar-se estar mais próximo dos filhos. Ele necessitava da nossa presença. Havia nele um sentido de urgência. De recuperar o tempo perdido. E isso era muito reconfortante, pois cresci com a falsa impressão de que ele não se importava comigo. Realmente, por ser muito retraído, ele passava essa imagem. Daí o nosso distanciamento.
Hoje, já avô, sinto saudades de meu pai. Saudades dos poucos anos de feliz convivência. Das conversas sem nenhum propósito... mas, que foram muito importantes para a minha vida. Felizes foram os poucos anos que curti o meu pai.