"A vez da vida"_*Jogando conversa fora*_

A vez da vida

(Retalhos)

Jogando conversa fora

"Palavras ditas, soltas

Conversas sem compromisso

Vidas vagando contando

Memórias ressuscitando."..

Myriam Peres

Como é gostoso jogar conversa fora! Ficar horas a fio, relembrando fatos, revivendo emoções sem saber o que dizer, mas dizendo, contando, cantando histórias ultrapassadas... Ficar como desfiando rosários de passados, de fatos tão bem contados que mais parecem filmes de televisão. Memórias excitadas com todas essas histórias, verdadeiras ou ficção?

Aconchegada aos braços da saudade, vivo essa emoção. Acentuo as cores das nuvens largadas pra trás, poeiras deixo-as assentadas no chão das recordações. Pingam folhas já amassadas, pétalas de flores esmaecidas, galhos de outroras ressequidos, mas são vindos de mundos distantes, mundos que já foram antes e que se reerguem do chão das lembranças, das melancolias que me atordoam ainda a razão.

A quem for que relembremos, a quem nos queira escutar nossas conversas fiadas, tão perpetuadas, tão passadas, tão agora requentadas, tão cansadas de serem rememoradas. Jogar conversa fora sem preocupação de palavras bonitas, de rimas de badalação, de cânticos de uma canção, somente deixar cair ao vento recordações que emolduram corações.

Ah! Deixem eu contar mais umas, mais verdades de sonhos soprados e acalentados, mais rimas das poesias que me recostam em profundas melancolias, dos reencontros das distâncias, dos ares já ventilados, das fragrâncias tão perfumadas que minha memória, sonhadora e emocionada, me derruba em transes dos passados, das notas que ainda ecoam com tanto sentido que me estremece ainda de tanta solidão..

Desacorrentemo-nos de nossas regras, tiremos as mordaças que oprimem, soltemos fôlegos de liberdade mesmo se só forem em conversas fiadas, de palavras desajeitadas, de suspiros entrecortados, conversemos com a vida, mesmo se ela for mal resolvida, mas deixemos em frases mal feitas ela se pronunciar. Quem sabe se ela vai gostar e contar as passadas dadas. os erros acobertados, as ilusões desmioladas e em fraquezas despedaçadas.

Mas ela dirá também das alegrias deixadas, das nossas gargalhadas, dos prazeres escondidos, dos comportamentos de bandidos que um dia ousamos empunhar. Conversemos com ela, amansemos seu coração que está cansado de tanto sofrer, de tanto nos proteger, de tanto nos avisar dos tropeços que ainda vamos dar, de tanto ser escravisada às custas de nossos "bem querer" tão difíceis de se conseguir e de nas nossas emoções reter...

Conversas à toa, palavras que sairão borbulhantes das nuances de historias passadas, de cânticos tão mal contados, rotos e esfarrapados que enrodilharam-se nas nossas memórias, de fustigantes derrotas e vitórias, de risos e lágrimas a gotejarem dos nossos olhos de idos já sumidos da nossa visão.

Contem fatos, embaralhem paraísos, de choros e de risos, de saudades e de alívios, mas não deixem arrefecer as despedidas, as chegadas e saidas, as voltas adormecidas, os nossos liames de vidas que são só nossos assim enrustidos, embrutecidos e de enfraquecidas visões de vidas vividas umas e coloridas outras, em diapasão de cores, de amores, de sonhos sofredores, mas conversemos. Contemos a quem interessar possa, a quem nos quiser escutar, a quem curioso se apresentar e chegar para emergirmos, nas palavras, nos ocasos das revelações vigentes, as afoitas e desnudas saudades..

Recostem-se conversando, que lírios de sonhos acordando nas flores de seus paraísos, nos infinitos de seus sorrisos, que fazem a gente crer que nada se acaba, apenas se transforma em vidas renovadas, rosas sem suas picadas de espinhos que foram assim criadas, mas que em seus odores e cores presenteiam como rainhas das pétalas macias, dizendo que atrás de suas picadas, vêm vidas tão airosas colorindo nossas estradas, transformando em tudo o que antes era nada...

É a vez da vida chegando, convidando à renovações, à perfumadas ilusões, ninando em seu colo fértil e florido, de tão lindo colorido que embalam em nossas visões, rimando poesias, enfeitiçando as promessas de cânticos cantados à beça.

Vamos experimentar novas histórias, vamos viver novas glórias, vamos compor de novo, em papos retirados do passado, torná-los assim tão vivos como se assim se apresentassem em nossas fiadas conversas, motivos de recordações...

Vamos jogar conversa fora, vamos em passadas de agora, tornarmo-nos magias de tanto viver a vez da vida, de tanto poder contar futuros que se apresentarão e enriquecerão nossos infinitos com os de ares de um Éden celestial...

Maria Myriam Freire Peres

Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2006

Myriam Peres
Enviado por Myriam Peres em 17/09/2006
Código do texto: T242694