À Amizade
[Publicada no Caderno Mulher Interativa/Jornal Agora de 31/Julho - 01/Agosto de 2010].
Sempre me emociona a quantidade de dizeres que guarda uma única palavra. Há duas, em especial, que muito me intrigam: a pequena “dor” e a grande “amizade” – sobretudo a segunda, pois nela a dor cabe. A “amizade” é, no meu entender, o vocábulo que mais dizeres comporta. Ela traz uma sensação de segurança tamanha, que nos remete ao sentido de lar. Ela é maior que amor, que família, que saudades, pois ela tem em si tudo isso e mais um pouco.
“Amigos são irmãos que a alma escolhe e que o coração acolhe”
– Posso não saber a autoria da sábia frase, mas nunca esquecerei a amiga que comigo tão generosamente a compartilhou. Trago-a sempre comigo! São essas as coisas que nos moldam: as memórias, as palavras e os amigos.
Amigos verdadeiros jamais são esquecidos... Ainda que eles errem a data do seu aniversário, ou percam o casamento do seu filho. Ainda que o tempo e as intempéries da vida tornem raros os encontros ou dificultem o contato. Amigo é aquele que sempre se faz presente. Seja numa memória, numa história, num retrato. E, quando presentes, sabem a hora de chegar e o momento – ainda que sempre nos pareça cedo – de partir, construindo conosco, neste intervalo, mais uma memória especial.
E ao contrário da família, que cresce, encolhe, mas nunca se escolhe, e dos amores, que são provados em variados sabores, um verdadeiro amigo é para sempre. Pode-se ter um grande amigo na família e deve-se tê-lo nos relacionamentos amorosos, mas alguém que não carrega o compromisso arraigado a genética, sangue ou sobrenome e, ainda assim, está sempre lá, ao seu lado, nos mais importantes momentos, ah... Esse alguém merece todo o mérito estampado no título de amigo.
Um amigo nem sempre é alguém com quem tudo se compartilha, mas ainda assim, ele entende... Mesmo quando discordamos um do outro ao ponto de levantar a voz, mais tarde, ele entende. E nos olha sempre com bons olhos, pois uma grande amizade não suporta mal-entendidos.
Amigos são sujeitos estranhos, que riem das nossas bobagens e, com o passar do tempo, as propagam – não é raro que entre amigos os cacoetes, palavras e trejeitos se misturem, assim como os sentimentos. Amigo é todo aquele que sorri com a nossa alegria e chora a nossa dor; que torce por nosso sucesso nas mais malucas empreitadas que nos propomos a realizar.
Amigos são aqueles que despertam em nós tantos dizeres...
Que enxergam em nós tantos saberes.
Que entregam a nós suas verdades.
É triste quando alguém tenta contar os amigos nos dedos da mão... Não apenas pelo número limitado de dedos e, consequentemente de amigos, mas principalmente pela facilidade em nomeá-los. Não é tão simples quanto parece. Todos nós, em algum momento da vida, nutrimos amizades pelas razões erradas, quer seja por status, conveniência ou comodidade, acreditando erroneamente numa “amizade proposital” – besteira. A amizade acontece e pronto; sem razões evidentes. E só anos depois de consumada pode ser de fato registrada, podendo-se então nomear seguramente a um dos dedos.
Às vezes se é o melhor amigo de alguém e nem se sabe o porquê... Ou nem se sabe que é. E quando enfim se descobre, vem um aperto no coração por não ter antes notado, por nunca ter falado, retribuído ou dado o valor merecido. Como se fosse algo possível de mensurar... Como se fosse preciso. Para ser amigo basta amar e estar lá, sempre que puder, sempre que couber, sempre que sentir.
Para ser amigo basta ser... E o resto, fica implícito.