Considerações de mim a mim mesmo

Enfim, descobri.

Encontrei, claramente, os motivos pelos quais procurava.

Sim, finalmente entendi o porquê de tanta vontade de escrever ou produzir alguma coisa.

E a explicação é simples. É evidente até.

Eu tenho vontade de escrever para dar mais graça na minha vida. Isso parece meio depressivo, mas é a realidade e não tem nada de mais. Aliás, esse processo tipo “válvula de escape” é bem comum, e isso não é novidade pra ninguém. Enquanto outros sentem que precisam de um “novo amor”, sentem que precisam “mudar de ares, viajar”, que precisam “trocar de carro”, “trocar de casa”, “de emprego”, sentem que precisam comprar um cachorro ou sei lá, eu sinto que preciso escrever.

Não que eu não sinta esses outros anseios também, mas o mais recorrente é a vontade de escrever, de argumentar, criar uma história, manifestar minha opinião. Esse seria o meu portal para a fuga da monotonia. Meu hobby ideal, por assim dizer.

Só que, diferente da maioria das pessoas que compartilham comigo esse mesmo interesse pela escrita – as quais, aliás, são muitas (o crescimento em progressão geométrica dos blogs é a prova disso) – eu não pretendo fazer um desabafo quando escrevo. Desabafo eu faço comigo mesmo! Ou com um amigo, um familiar ou coisa do tipo. Desabafo, em minha opinião, é conversa, olho-no-olho, ao vivo e a cores. É um debate, uma troca de idéias. E não escrever um monte de coisas subjetivas e lamúrias, sempre com a velha menção à angústia, o sofrimento...”ahhh a angústia, eu preciso botar pra fora meus sentimentos por meio das palavras!”. Ora, convenhamos, a não ser que tu sejas ou tenha talento pra ser um grande poeta ou dramaturgo a tua ladainha não vai ser nada além de... bem, ladainha. E esse é, infelizmente, um dos temas mais comuns em jovens escritores. É a tal tendência que vem fazendo com que as pessoas queiram cada vez mais falar de si mesmas do que ouvir os outros.

É claro que, como já disse, essa é a minha opinião. Coisa que, em termos práticos, não vale muita coisa. Ainda assim, impede que eu tente produzir algo nessa linha “desabafo”. Isso evidencia uma espécie de critério que eu estabeleci na avaliação de possíveis e eventuais temas e/ou estilos de narrativa a serem desenvolvidos se um dia eu escrevesse algo. Este critério consiste basicamente em: a) escrever alguma coisa que trará algo de positivo para quem leia, que contemple o leitor de alguma maneira, que não seja egocêntrica, fútil, inútil e que, se for idiota, seja idiota o suficiente para ser engraçado, e b) aquilo que estiver sendo escrito deve ser, para mim, imprescindivelmente divertido e prazeroso de ser escrito.

Alguém poderia dizer que este texto é um desabafo inútil e egocêntrico, que vai de encontro aos meus critérios e me torna contraditório. Bem, como a maioria dos seres humanos às vezes sou um pouco contraditório. Agora, este texto não é um desabafo, é uma reflexão que, pelo menos nesse exato momento em que está sendo escrita, não pretende ser publicada em lugar nenhum; pode ser inútil para “a humanidade e para o bem geral da nação”, mas é útil para mim; quanto ao egocêntrico, é possível uma reflexão sobre a própria condição não ser egocêntrica?

Enfim, depois dessas considerações fica bem claro que no meu caso o ato de escrever não é muito fácil. Certamente falar, debater, criticar são tarefas mais apropriadas para mim. Mas o que fazer quando aquela opinião defendida na mesa do bar parece transcender e reivindicar uma atenção maior? Como se pedisse para ser mais bem trabalhada, para ser desenvolvida, estudada. Como se pedisse para ser escrita.

Só que aí eu me convenço de que, por enquanto, ainda tenho mais contras do que prós como suposto escritor. Vontade e inspiração, arrisco a dizer, não faltam. Talento? Talento se desenvolve, se treina, se constrói. Entretanto, o perfeccionismo e a eterna sensação de que não se está pronto são obstáculos um pouco maiores.

Esta é a minha sina: o desejo de ser um escritor que, pelo menos atualmente, não sou capaz de ser.