Aldeia Global

A velocidade da informação, a globalização trazem ao mundo a possibilidade de se estar em cada canto do planeta; saber amiúde o que acontece em cada pedaço de chão. O homem ganha com essa grande "Aldeia Global", mas também perde.

A troca de conhecimento, as descobertas o avanço da tecnologia, das informações faz com que cada vez mais o homem se conecte às máquinas para fazer parte dessa loucura deliciosa que é o mundo moderno. Porém, dessa grande loucura e parafernália além dos ganhos advém as perdas, porque nem tudo é difundido como realmente é, e acaba sendo distorcido pelo caminho, seja pela pressa de se passar adiante, seja por falta de cuidado de quem divulga, ou até por maus intencionados, o que em alguns casos pode começar uma guerra.

Um parágrafo solto de uma fala do século XV, criticando o profeta Maomé, citado pelo papa em uma palestra numa universidade agora dá margem a um desentendimento que se não for contido pode enveredar para uma nova guerra santa.

O profeta Maomé é um líder religioso que tem para os muçulmanos o mesmo peso que Jesus Cristo para a nação católica e V. S. Bento XVI jamais seria leviano em qualquer fala ou comentário que pudesse atacar os muçulmanos ou qualquer outro segmento religioso, por razões óbvias. Mas a quem interessaria fomentar uma guerra religiosa?

Vender manchetes, atrair leitores, vender folhetins? Será que para estampar os mais importantes jornais, revistas e os portais da Internet vale postar uma chamada que não traduz a verdade na íntegra? Por que alguém pinçaria só uma frase de uma palestra inteira e distribuiria sem o cuidado de explicar que ela não é da autoria de quem a proferiu? Seria falta de tato ou maldade? Ou alguém quer ver o circo pegar fogo?

A imprensa que tem um papel fantástico nessa imensa aldeia não pode ser a primeira a distribuir fragmentos de uma fala irresponsavelmente, criando clima de tensão, instilando o ódio num povo que já tem um histórico sofrido de lutas e cruzadas santas.

Os quatro cantos do mundo estão unidos através de informações e muitos cabos, uma única palavra pode viajar para os lugares mais longínquos e provocar reações das mais diversas, e dessa possibilidade de se chegar a tantas nações das mais variadas culturas advém riscos de interpretações destorcidas com a mesma intensidade com que chegam

descobertas científicas, por exemplo.

É possível que esse mundo vire uma imensa Aldeia Global, mantendo o respeito sem invasão de privacidade, sem destruir culturas ? Até onde vai a sede do homem em desvendar os mistérios da tecnologia para obter poder, para manipular e ter às mãos o controle do céu, água e ar?

Como virar essa aldeia sem tirar a liberdade dos povos decidirem seus rumos, cumprirem seus rituais sem intromissão? Como vivermos todos em plena harmonia sem ferir as regras da boa convivência, sem a perda de identidade, de privacidade?

Até onde o homem é capaz de chegar para conquistar?

Até onde ele saberá se preservar como espécie?

Até onde ele se interessará em manter outras espécies?

Até quando o homem continuará olhando para seu próprio umbigo, sem se incomodar com o mundo à sua volta?

Como o mundo ocidental recebe a rigidez dos orientais e como se comportam os orientais diante da liberdade dos povos ocidentais? Será que há uma aceitação sem reservas, sem preconceitos de ambos os lados? Ou antes, porque não pode haver o respeito mútuo?

Num mundo onde a palavra corre em cabos cada vez mais velozes, onde as informações, embora transmitidas pela boca dos informantes, são instantaneamente transmitidas por satélites, é preciso muito mais seriedade e cuidado para que essas mesmas palavras não venham despertar mais ódios do que já existem milenarmente nesse nosso velho mundo.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 17/09/2006
Reeditado em 17/09/2006
Código do texto: T242594
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