PAI VAI (Uma Crônica para o Dia dos Pais)

Mergulho novamente no oceano da matéria; sinto o meu corpo, a pele, os ossos, os olhos se abrem e vejo explosões de cores; os ouvidos e o som dos tambores; um gosto na boca; um toque nos dedos, percebo o mundo, estou quase inteiro. Tempo, não existe; espaço o suficiente para que a minha alma aceite o corpo e o corpo aceite a minha vontade de permanecer aqui, aprender, viver, curtir e experimentar todas as coisas que foram programadas e todas as outras que serão inseridas em minha caminhada revestidas de surpresas, compostas de coincidências; sei que não vim por acaso, mas prometo acreditar que não lembro de onde sou, do que sou verdadeiramente feito, de tudo aquilo que ficou...estou pronto!

A luz fere meus olhos, um túnel se abre sob a minha cabeça, não posso mais ficar por ali, preciso partir, tenho que chegar, eles esperam por mim: acabo de acordar humano!

O ar invade os meus pulmões, berro, já nasci aprendendo a chorar, a me agarrar, a segurar o pouco que é meu; todos aplaudem, já sou celebridade, o ego nasce mais uma vez e revestirá cada vez mais as vozes da alma no decorrer das idades; reconheço a mulher-mãe pelo cheiro, pelo tato; e por outros sentidos que sei que eu sinto; reconheço aquele homem que esconde as lágrimas, que se espanta ao perceber que acabou, junto com ela, de criar do nada: vida!

Choro e ganho o que quero: balanço a cabeça, a boca procura, os lábios almejam e calo-me no farto peito que jorra leite para me saciar; satisfeito, faço graça, resmungo e suspiro, adormeço!

E quando acordo, ela está lá o tempo inteiro, mas ele ainda com cara de medo. Ela, só segurança; ele se aproxima com certa deselegância, e ela diz qualquer coisa, ele entende e me pega em seus braços; calor e frio se misturam - ela pura doçura, ele total força - estou em casa com eles.

Ele me olha, eu olho para ele; uma parceria acaba de ser feita. Ele vai me preparar para viver no mundo outra vez e eu vou mostrar para ele que serei uma máquina de aprender e me tornarei, a sua forma e semelhança, a continuação dele...

Frank Oliveira

http://cronicasdofrank.blogspot.com