MANIA DE CELULAR

Ela é fissurada no aparelhinho! Ce-lu-lar! Sem dúvida, a melhor invenção dos tempos. Falar a qualquer hora. De qualquer lugar. Tem coisa melhor? E o “tchan” de andar na rua falando? Nossa! É o maior barato. Assim andando depressa. Com ares de quem tem muita coisa pra fazer. Compenetrada, passos firmes, sem olhar pros lados. Hum, impressiona! Vai dizer que não? Todo mundo olhando “Puxa, com quem será que ela tanto fala?”.

Lugar com muita gente, então? Melhor ainda. O aparelho tocando. Passando a impressão de pessoa procurada, necessária, requisitada... Aquela afastadinha proposital, só pra dar um suspense. O povo com inveja “Hum, por que será que meu celular nunca toca?”. Triste, né? Um celular mudo, mudinho. Sinal que não se tem amigos. Sinal que ninguém lembra. Ai, que solitário, um aparelho emudecido, sem nomes na agenda, sem luzinha, sem musiquinha, sem alerta de mensagem apitando, sem nada...

Dia de oftalmologista. Há muito ela tá precisando renovar os óculos. É a última na sala de espera. Ufa! Maior chá de cadeira. Quase uma hora e meia! Tá doida pra sair dali. Falar com os milhões de amigos. Gastar todos os seus créditos que já estão expirando. Já pensou? Jogar fora a chance de fofocar à vontade? Ainda mais que ontem foi a festa do Eduardo Eugênio e ela, ai, ai, simplesmente não foi. Que tragédia! Tem de ligar pras meninas, saber o que rolou por lá... A secretária com cara de Eva Byte e voz de plástico anuncia “Aianda Caroline”. Opa! É sua vez. Vamos lá? Acabar logo com isso. Ir correndo pro banco da praça ligar pra todo mundo.

Fim da consulta. Doutora Simone concentrada no computador. Aianda Caroline nos babados da festa do Eduardo Eugênio. Vruumm! Vruumm! Vruumm! Nossa, o que é isso? É o celular vibrando em cima da mesa. Feito um raio ela agarra o aparelho. É Cissa, sua fiel informante, com certeza! Enfim, notícias da festa! Vai pra atrás de um biombo pra ficar mais à vontade. Pura euforia “E aí, amigaaaa?”. Do outro lado, silêncio. Só então ela dá pela coisa. Que telefone é esse? Um buraco pra se enfiar? Não, a morte de uma vez. Meu Deus! Aianda Caroline tinha literalmente “sequestrado” o celular da doutora Simone... Puxa, aí não dá, gente...