186 - EM NOME DA AMIZADE...

As mais belas histórias sobre o relacionamento dos homens sobre a terra datam milhares de anos antes de Cristo. Para alguns estudiosos, sua primeira expressão começou com os desenhos que o homem primitivo fazia nas paredes das cavernas. Depois foram criadas outras formas, como a escrita cuneiforme dos sumérios e daí para frente, grande evolução até nossos dias. Portanto, histórias são contadas desde a época em que se inventou a escrita usada para transmitir conhecimento e cultura de geração em geração.

Quando se tem a oportunidade de debruçar sobre os mais remotos escritos ficamos maravilhados com os relatos de verdadeira devoção entre pessoas que viveram grandes amizades e fizeram questão de se recordarem por todos os dias de suas vidas. Registraram em poemas musicados, filmes, escritos em livros e peças teatrais.

Não nos cabe a pretensão de fazer um estudo antropológico sobre a raça humana, mesmo porque eu teria de ir muito além da pretensão... Neste caso o que antecede serve para corroborar, na essência, a experiência que tenho compartilhado com os amigos da irmandade que chamamos honrosamente “CONFRARIA DOS AMIGOS DO CHIQUINHO ALFAIATE.

Reza a Bíblia um dos mais antigos livros da humanidade “Que ter amigos é ter encontrado um tesouro”, talvez não necessariamente com estas palavras. Mas neste caso, é para fazer uma relação exata da dimensão da riqueza que anda depositada nos cofres da vida dos confrades: verdadeiro tesouro.

Se estabelecermos uma relação direta com a idade dos confrades poderemos dimensionar o quanto eles são milionários ou talvez milhardários, como se diz do Tio Patinhas. Vale lembrar que o pato se apega ao dinheiro como sua tábua de salvação e não consegue desfrutar das benesses daquilo que possui. Fica o tempo inteiro preocupado com sua fortuna e o conseqüente medo de ser roubado.

Embora seja um elemento criado com este perfil acreditamos que a intenção do seu criador tenha sido demonstrar que existem pessoas com esta característica. Aqui o dinheiro não tem assim tanto valor. A grande moeda em circulação nesta távola é a amizade, claro que não se passa a tesoura no patrimônio costurado por anos a fio.

Existem amigos que são para sempre, dizem os poetas e os não poetas também compartilham deste sentimento.

Nos últimos dois encontros lá na confraria, assim como de resto em todos os outros desde a data em que passei a conviver neste grupo, tive a grata satisfação de comprovar o que já se sabe em voz corrente na cidade: ali se reúnem AMIGOS. E é assim mesmo, com letras maiúsculas. Amizades cultivadas ou cultuadas ao longo de anos e até décadas.

Em nome da verdade eu fico sem palavras para descrever a emoção que rola quando de repente chega alguém que esteve ausente por um maior período, até mesmo alguém se ausentou por poucos dias, sem que se saiba o motivo.

Como não existem meias-verdades nem meias amizades, eu que sou um dos mais recentes velhos amigos do Chiquinho, embora já o conhecesse há bons 50 anos, só faço parte do círculo de amizade dele há pouco tempo. Observo a satisfação que ele tem em receber a todos com um sorriso e forte perto de mão e ou abraço.

Todo o dia tem gente que mesmo de passagem pela cidade faz questão de vir dar um abraço e saber à quantas andam as coisas da nossa Itabira, saber das pessoas amigas do tempo de infância.

Na última sexta–feira esteve fazendo uma destas visitas um cidadão de nome Cláudio de Oliveira Torres, mais conhecido como o “Cláudio do Sô Lolão - João de Oliveira Torres – (o farmacêutico).

Foi emocionante ver amigos de longa data se abraçarem efusivamente, chegaram a ficar com a voz embargada de emoção e contentamento como diz o Sô Chiquinho: - É mais um representante da velha guarda e ser humano daquele que não está no gibi.

Os dois amigos desfilaram todo sentimentalismo que vez ou outra os deixavam a beira das lágrimas, mas eram logo contidas por novas histórias das inúmeras aventuras do tempo de rapazes.

Primeiro lembraram as estripulias do tempo de criança, depois as muitas partidas de futebol que realizaram com outros times da cidade ao longo da vida. Falaram um pouco dos colegas de futebol, das viagens... Sim! Era quase uma viagem ir passear na mina do Cauê aos domingos na jardineira do Ruderico Mafra, outro amigo de infância muito reverenciado e também do passeio ao cemitério dos ingleses.

Foi formidável vê-los relembrar até os nomes dos que lá estavam enterrados das muitas namoradas, ah, as namoradas, um capítulo a parte, disse o Cláudio, mas não teceram comentários, cavalheiros que são.

A todo o momento faziam questão de enfatizar o tempo que já dura a amizade entre eles. Chiquinho, Cláudio e Jair Pires relembraram os tempos de aprendizes nas alfaiatarias. Cláudio não fazia parte desta turma enquanto aprendiz de oficio. Os discípulos do Mestre José Figueiredo depois se tornaram profissionais e continuaram amigos. Citaram nome de outros aprendizes do oficio de Alfaiate como: Jacyntho, Manjair, Tomás da Costa Filho (o Tomazinho), Beneguedes, Nilo, Dão Picolé e muitos outros.

Sô Jair disse que conhecera o Chiquinho quando ambos estavam aprendendo o oficio de alfaiate. Depois, ambos saíram tendo ido Chiquinho montar seu próprio negocio, sua alfaiataria. Já o Sô Jair Pires foi cuidar de outros negócios, hoje em dia está aposentado como comerciante. Cláudio foi estudar em Belo Horizonte e está morando em Brasília e se diz formado em ciências ocultas, letras mortas e tem um diploma invisível. Emocionado Chiquinho comenta que nem o tempo e a distância consegue arrefecer a esta forte amizade que os une.

Vez ou outra se reúnem para celebrar a amizade no reino da pedra que brilha: fieis amigos em nome do rei. Ou, como nos contos “para sempre: um por todos e todos por um”

Emoção incontida nas falas e emoção contida nas despedidas não sem antes deixarem marcado o próximo encontro.

“CONFRARIA DOS AMIGOS DO CHIQUINHO ALFAIATE”

02/08/2010

CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 06/08/2010
Reeditado em 15/10/2010
Código do texto: T2422976