Analfabetismo cidadão
Desde os tempos colegiais, aprendemos que analfabetismo é a incapacidade de ler e escrever, mas, para a avaliação das políticas educacionais, essa incapacidade só pode ser considerada após os 16 anos de idade.
Após esse estágio, descobrimos que há o analfabetismo funcional. Que é a incapacidade daquele que mesmo que leia e escreva, não compreende. É incapaz de interpretar um texto. E isso é vexaminoso.
Bertolt Brecht discorreu sobre o analfabetismo político, que é a incapacidade de entender que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas e, essa pessoa, num ar de completa ignorância, declara, estufando o peito, que odeia politica.
Mas estamos percebendo o surgimento do analfabetismo cidadão.
O analfabeto cidadão é aquele que não se dá conta do poder que tem e não se conscientiza de que estar passivo à questões, que ele julga irrelevantes, que bombardeiam a nossa sociedade diariamente não o faz estar imune as consequências.
Talvez essa seja a única explicação para entender uma pessoa que mesmo que não leia as seções de Economia e Política dos jornais (daqueles que ainda as mantêm) e vêem os programas televisivos, mesmo que não sejam os telejornais esclarecedores, não conseguem se dar conta que há algumas coisas implícitas em relação ao que é propagado.
Há alguns dias atrás, um policial militar do Rio de Janeiro foi morto por reagir a um assalto numa das áreas de risco e o seu Audi A3 foi danificado. Detalhe: o mesmo era soldado da corporação, tendo um soldo de mil reais, sem contar os descontos que quaisquer reles estão submetidos.
Será que os artistas ‘descolados’ que propagam a descriminalização das drogas, conseguiriam manter a mesma ênfase do discurso quando tivessem que explicar aos seus correligionários como um traficante que está num presídio de segurança máxima consegue sobreviver naquele local? Com certeza, não é com doações filantrópicas, é por subsídio do tráfico de drogas.
Não há alguém no mundo, que independente das ideologias políticas, eu diria gostos, na verdade, que tenha, não perceba que a polarização da corrida presidencial é paradoxal ao que eles sempre combateram: o continuísmo?
Será que ninguém percebe que quando um bando decide distribuir sinal de canais fechados e internet banda larga, ele não quer democratizar o acesso, mas sim obter os mesmos subsídios que os traficantes buscam? Eles não estão preocupados que a Globo News e os canais culturais possam ser assistidos, mas eles seduzem com a transmissão clandestina de filmes pornográficos e partidas de futebol, e nem tampouco estão preocupados que você possa ter acesso a jornais e revistas, mas que você esteja feliz em usar o Orkut e o MSN sem ‘cair’.
Será que ninguém percebe que sem educação e trabalho, todo ganho e avanço serão efêmeros?
Será que ninguém percebe que quando os jornais divulgam que a Classe D está superando a Classe B em poder de compra, eles estão falando em índices? Uma vez que enquanto a classe D está conseguindo adquirir eletrodomésticos que não possuía e/ou mais sofisticados, a Classe B está fazendo Cruzeiro pela Europa. O que diremos da Classe A?
Será que ninguém percebe que se não nos atentarmos para o futuro continuaremos a ser gado novo?
Será que ninguém percebe que dispomos de todos os recursos necessários para termos uma melhor infraestrutura e que ao invés de cobrarmos os novos governantes que usem bem o nosso dinheiro, continuamos entregando o nosso voto por afinidade e coleguismo?
Que tal procurarmos oferecer algo de melhor aos nossos descendentes?
A grande piada do momento é que em virtude dos últimos acontecimentos, o mundo se ‘propicia’ a acabar em 2012, mas eu tenho o profundo desejo que ele renasça em 2010.
“Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca”. (Darcy Ribeiro)