PAI HERÓI

Já estou até imaginando o que vai acontecer no próximo domingo. Ele vai acordar feliz porque é o seu dia. Almoço especial. Receberá abraços e presentes dos filhos. Que emoção! Aquelas crianças com quem ele brincava, levava pra passear no parque, ensinou a andar de bicicleta... Foi ele quem as colocou no colo para ‘dirigir’ o carro... Mais tarde ficava puto porque tinha que sair de madrugada para buscá-los em festinhas... Essas festinhas que aconteciam em casa também, com aquela molecada ouvindo tum-tum infernal até altas horas, o pessoal do prédio reclamando... E os namorados da filha, então? Pensavam o quê?... que um babaca qualquer podia se arvorar pra cima dela, assim, sem mais?... Não senhor! Tinha que ser sério, estudioso, trabalhador... Mas isso tudo já passou, agora são adultos, encaminhados, casados... Vamos comemorar! Tragam a cerveja! Tchim-tchim! Sou um pai bacana, não sou?... É sim, papai, você é o maior!... Abraços, risos, lágrimas... E dá-lhe cerveja... Serei um bom avô?... Claro, papai...

Ao anoitecer, estirado no sofá, ele ronca satisfeito. Os filhos já se foram, a casa silenciosa. A mulher cobre seus pés com a manta. Enternecida, fica olhando.

E pensa: hoje não preciso da vassoura, ninguém vai varrer, nem voar...