DE OLHO NO OLHO = BVIW

Ele não tem coragem de encará-la. O que tem para dizer-lhe é difícil, constrangedor. Como dizer a ela que já não a ama, que quer ser livre para começar uma vida nova ao lado de outra, se ela sempre foi correta, amorosa, a melhor esposa do mundo? Como, se ele tem por ela carinho e respeito e a última coisa que quer é fazê-la sofrer?

Chega-se à janela, de costas para ela.

Lá embaixo o movimento habitual na rua, vai e vem de carros e pedestres, um pássaro passa voando e pousa em uma árvore. Tudo normal, trivial, nada mudou, mas no seu peito ruge uma tempestade, sentimentos desencontrados, de um lado a vida certinha ao lado da esposa de tantos anos, de tantas lembranças, de tantas experiências comuns, do outro, a outra, sensual, deliciosamente vulgar e sem vergonha, ele reconhecia, mas não conseguia safar-se do seu fascínio.

Agora se decidira mandar as favas o bom senso, a decência, os princípios morais e éticos. e jogar-se à estonteante aventura. E que se lascasse o resto!

Sua voz sai rouca, embargada, contendo a custo as lágrimas. gagueja as palavras cruéis que como lanças atingem a mulher incrédula que reage:

- De costas, não! Diga isso com voz firme olhando nos meus olhos!

Ele volta-se devagar, olha para ela e... não diz nada.

Maith
Enviado por Maith em 06/08/2010
Reeditado em 06/08/2010
Código do texto: T2421860