O FUTURO NAS MÃOS DE DESCONHECIDOS

Faz muito tempo vim lá de Andradina, minha cidade natal. Vim embalado por um sonho de estudar na famosa Universidade (da megalópole) mas não medi muito as conseqüências. Entendia que bastava força de vontade e coragem. No entanto precisava de dinheiro para me sustentar. E para ganhar, precisava de emprego. E para conseguir emprego exigia-se experiência, sem a qual tudo ficava difícil. Disso ninguém me prevenira, ou não tenha querido entender - o mais provável.

Certo dia, lembro-me... naquele tempo internet não existia, nem celular... andei exaustivamente pela cidade, entrando e saindo de agências de emprego, submetendo-me a entrevistas e mais entrevistas sem nada conseguir.

Metrô também não existia. Ao fim do dia, cansado, desanimado, um tanto quanto frustrado, tomei o ônibus para voltar a casa.

Ao descer, vi um pequeno papel jogado na rua que parecia propaganda de algum produto. Estava limpo, porém amassado. Desamassei-o e li. Falava de uma “fulana de tal” que através de cartas e de búzios poderia resolver todos os problemas da minha vida. Prometia mais uma montanha de coisas boas.

De repente aquelas letras, perdidas no meio daqueles vincos das dobragens, em vez de trazerem a esperança de solução, a mim provocaram desconfiança.

O meu futuro nas mãos de alguém que se especializara em estranhas leituras? Impensável. Acostumara-me a lutar para conseguir qualquer coisa. Tudo exigia esforço e dedicação.

Quarenta anos negando-me a percorrer os atalhos da vida. Derrotas sofridas, esquecidas. Vitórias conquistadas, comemoradas. Tristezas e alegrias. Sem previsões ou sortilégio. Sem surpresas. Luta constante. Ajuda dos amigos. Proteção de Deus.

Há poucos dias, num conhecido viaduto no centro da cidade, um grupo de mulheres com roupas de cores fortes e vibrantes se oferecia às pessoas para “tirar a sorte através da leitura das mãos”. Aquele episódio distante - da papeleta amassada com promessa de sorte - veio-me à mente... Precavido, delas passei longe.

Quão frágil é a natureza humana. Encanta-se e se deixar levar por promessas vãs em momentos de dificuldade.