A SAUDADE CONTINUA

O texto de Mluiza Martins me fez lembrar do “Pirulito”. Quanta saudade! Se pudesse falar, talvez tivesse sido o meu melhor interlocutor. Era muito sensível. Sabia perfeitamente quando eu não estava vivendo um bom momento. Nesses dias, que eram poucos, graças a Deus, ele simplesmente se enroscava ao meu lado na poltrona ou ficava sobre os meus chinelos. Literalmente, ele calçava os meus chinelos, pois enfiava suas patinhas em cada uma delas. Que olhar marcante, profundo! Havia em seus olhos uma doce expectativa de que eu pudesse lhe dar algum sinal de que as coisas estavam voltando ao normal. Quando nossos olhos se cruzavam, era impossível resistir-lhe. Tinha de fazer-lhe um afago que ele, generosamente, retribuía com um roçar de cabeça.

Ah, Pirulito, como você me compreendia! Acho que não poderia haver mais cumplicidade entre dois animais de espécies tão diferentes. Seu desaparecimento ainda hoje me dói. Não posso ver um seu semelhante, nas cores preto e branco, sem ficar emocionado.

Às vezes, fico a pensar como pode alguém fazer mal a um bichinho tão lindo e doce como o Pirulito. Ele não causava mal a ninguém. Muito pelo contrário! Seu modo desajeitado de andar e o seu olhar perscrutador conquistava a todos. Como é difícil viver sem um companheiro como ele. Como nos dias de hoje é difícil achar um bom ouvinte, ninguém melhor do que o Pirulito para compartilhar as minhas angústias, decepções e as alegrias da minha pobre vida. Ninguém me compreendia como ele.

Nunca, jamais, um ser foi tão expressivo em seus gestos quanto o Pirulito. Ah, meu amigo, você é insubstituível. Em seu lugar só ficou a saudade.

Luis Gentil

Agosto/2010