A MÃE DIVINA

Finalmente no horário do almoço consegui encontrar o “Mestre” sozinho. Pois sempre que o encontrava havia pessoas à sua volta dialogando.

Sentamos-nos no banco da praça, em frente ao grande hipermercado onde ele trabalhava exercendo a função de auxiliar de serviços gerais.

Na verdade nunca perguntei seu nome de batismo, quando o conheci já todos o chamavam de “Mestre”. Todas as pessoas o adoram, seu magnetismo com simplicidade. Seu olhar tranqüilo, sua voz suave, suas palavras cheias de otimismo e alegria, dá a impressão que aquele ser humano adulto é uma criança que não cresceu.

Todavia, sua voz toma um tom solene e grave quando fala sobre o nosso mundo interior, ficamos assombrados com seus conhecimentos sobre a natureza humana.

Filosofia, psicologia, compreensão dos complicados labirintos da mente, lei de causa e efeito, ação e reação, fobias, as inexplicáveis problemáticas da psique. Nas suas considerações encontramos explicações lúcidas, e maneiras revolucionarias para resolvê-las.

Ele realmente faz jus ao nome de “Mestre”.

Impressionante é perceber que a cada encontro nosso ao longo dos anos, nota-se claramente que seu conhecimento aumenta, parece que à medida que aprende mais com a vida, se torna mais doce, mais espiritualizado.

Só o fato de estar do seu lado emociona, quando o encontramos no seu local de trabalho, entre as prateleiras do hiper mercado, tem se a impressão que se entra em outra dimensão, parece outro mundo, um mundo de harmonia, paz e felicidade.

Certa vez comentei isso com ele. - Dando risadas me respondeu:

_ Meu amigo, falo tanto em trabalho interno que quando as pessoas chegam perto de mim, atuam nelas a Essência divina. A essência é pureza, perfeição, luz, alegria, felicidade, paz, na verdade tudo isso não está em mim, está nas pessoas. -

Quando questionado porque permanece trabalhando de simples auxiliar, responde sempre, obedeço ao comando da minha Mãe interna.

Neste dia, exatamente sobre isso que desejava conversar com ele.

Então sem mais delongas perguntei: _ Mestre o Senhor sempre tem falado sobre a Mãe Divina, confesso que até hoje não tinha dado atenção à suas explicações sobre ela, mas ultimamente venho travando verdadeira batalha com um dos meus defeitos mais forte, e certa vez o Senhor me disse que a nossa Mãe interna tem o poder de eliminar qualquer defeito.

O meu defeito... – Ele me interrompeu dizendo: _ Não precisa nomear o seu defeito... Porque os defeitos são todos iguais.

Em síntese todos os nossos defeitos psicológicos são os tradicionais sete pecados capitais, orgulho, ira, cobiça ambição, luxuria gula, inveja.

São chamados cabeça de legião, lembra da hidra de sete cabeças? Que foi decapitada pelo herói Hercules? Isto é uma alegoria sobre os defeitos psicológicos e como deve ser feito o nosso trabalho interno.

Cada defeito deste é formado por infinitas manifestações sutis de pequenos defeitos.

Também todo vicio é um defeito psicológico, é um ego que tomou a máquina orgânica.

Em cada ação nossa, precisamos estar atentos a manifestação do defeito psicológico, tudo isso comprovamos com o trabalho da auto observação a cada instante, de momento a momento.

À maneira do gênio preso na lâmpada, nossa essência Divina está presa nestes defeitos inumanos que carregamos na nossa psique.

Esfregar a Lâmpada e libertar o gênio, também é uma alegoria da liberação da Essência.

Falar da mãe Divina para mim é a maior felicidade.

Ensinar a identificar os defeitos e não ensinar como eliminá-los é uma verdadeira crueldade com o ser humano.

È como descobrir o veneno terrível e não apresentar o antídoto. –

O Mestre com reverencia começou a falar de algo muito sagrado;

_ Da mesma maneira que temos o pai e a mãe física.

Dentro de nós existe o pai interno, o Real ser, o Divino, o puro do puro.

Nossa Divindade interna tem o seu aspecto feminino que chamamos de “Mãe Divina” ela é todo amor e perfeição, e tem o poder de desintegrar qualquer defeito.

Após identificar através da auto observação, o defeito inumano que aprisiona nossa Essência, suplicamos à Mãe Divina que elimine este defeito, ela o elimina de acordo com a nossa disposição de nos livrarmos dele.

Assim nossa partícula Divina é liberada, nos trazendo sabedoria luz e felicidade. –

Quando ele parou de falar, identifiquei pequenas lágrimas no seu olhar.

Curioso. Ainda um pouco descrente, perguntei:

_ É simples assim? Não precisa de nenhum ritual ou prece especial?

Respondeu com um olhar brilhando de emoção.

_ Sim, tudo que se refere ao Divino é simples, nosso ego é que gosta de complicar...

Faça a petição... “Mãe Divina, te suplico, desintegra este defeito”

Pronto, ela faz a desintegração, o defeito se transforma em poeira cósmica e sua Essência se libera.

Faça a experiência e depois me diga. Com certeza você vai perceber o alivio quando o defeito psicológico inumano for desintegrado. -

Nosso diálogo foi interrompido, alguns funcionários do Hiper mercado se aproximaram.

Outras dúvidas minhas a respeito do assunto, ficaram para outro dia.

Agradeci ao Mestre e saí disposto a colocar em pratica o ensinamento.

Supliquei à Mãe Divina a eliminação de um dos meus defeitos.

O alivio foi tão grande que senti vontade de voltar e de joelhos agradecer ao Mestre tão valioso ensinamento.