A Chave.
É preciso fechar aquele ciclo com a devida ternura para abrandar o pesar, mas a impaciência com a dor causa-lhe, além do desconforto, uma ansiedade que lhe tira o foco impedindo-a de fechar o que tem que ser fechado.
Na bolsa repleta ela busca a chave. A procura é angustiante. As mãos tocam e soltam itens dispersos refletindo a desorganização interior.
Uma mão na realidade e outra na ilusão. Deixa cair a ilusão e sofre mais uma vez.
A percepção confusa dificulta o reconhecimento dos objetos. Misturados estão seus pertences; misturados estão seus sentimentos.
Confundem-se telefone celular com alegria, batons com tristezas, óculos com esperança, papeis de balas com desilusões.
Um bloco de anotações contém citações, letras, impressões de momentos e paginazinhas com enormes vazios.
Alguns desses vazios caem na sua saia. Com uma das mãos limpa o tecido e espalha um sentimento estranho no ar. Respira fundo para reconhecer o que sente. De repente a lembrança de uma voz guia sua mão e ela encontra a paz. Eis a chave. Fecha a porta e com um longo suspiro sai.