Aniversário x Cérebro (Parte 1)

Hoje é o dia! Meu aniversário...

Ainda deitada comecei a pensar em como seria o meu dia.

O cérebro querendo mais descanso, mas começando a funcionar, ainda bem calmo, a espera dos acontecimentos.

Meu marido foi o primeiro a me cumprimentar, me dando um beijo e um belo presente, agradeci e devolvi o beijo carinhoso.

Ele foi trabalhar.

Eu continuei um pouco mais na cama.

Quem será que virá me cumprimentar ou se lembrar da data? Também, grande coisa se esquecerem!Não vai mudar nada.

Levantei com uma preguiça danada, praticamente me arrastei até a cozinha para tomar café.

Me aproximei da pia, olhei a cafeteira,e...

Voltei para a cama!

Se hoje é meu aniversário, vou me dar um presente bem bom, ficar deitada sem fazer nada, de preferência nem pensar. Ouvir música, Relaxar.

Mas meu cérebro, um ser que mora dentro da minha cabeça de cor cinza de propósito para passar disfarçado, sem chamar atenção, é uma “coisa” voluntariosa, indomado, possuidor de vontade própria e o pior, é rei da teimosia.

Ele me mandava, ou melhor, ordenava que me levantasse, e eu o desviava o assunto para aquietá-lo buscando distraí-lo com mil coisas, para me deixar aproveitar aquele momento, mas como sempre ele venceu!

Levantei, tomei café e agi exatamente como sempre, a mesma rotina. Nem parecia meu aniversário.

Depois do almoço comecei a entrar em pânico, recebia telefonemas de amigos a todo minuto para me cumprimentar e avisar que dariam uma “passadinha” para me cumprimentar pessoalmente.

Começou a correria.

Supermercado, panelas etc. etc.

Melhor toalha, melhor louça, cristais, guardanapos especiais.

Tudo pronto e arrumado, como manda a tradição e boa educação.

O marido chegou um pouco mais cedo trazendo mais um presente, um lindo arranjo de flores.

Beijos e mais agradecimentos.

Banho, roupa bonita, maquiagem bem feita, cabelo mais ou menos arrumado, pois é “mais um” com vontade própria.

Seja o que Deus quiser.

Enfim o primeiro toque da campainha.

Felizmente os convidados, gosto bastante deles, são amigos queridos.

Abraços, votos de felicidades, presente bonito.

Daí para frente, o tempo voou, tudo correu normalmente conforme o esperado.

Finalmente os convidados se despediram, desejando mais felicidades.

Tranquei a porta e suspirei aliviada, mas feliz, tinha bons amigos, era querida.

Meio morta de cansada fui para a cama, para os braços do marido.

Tudo corria dentro do previsível.

Mas meu cérebro, esse monstro inquieto, começou a funcionar não me deixando conciliar o sono. Ele estava me irritando!

-O que você quer agora?Não está vendo que estou cansada e quero dormir?

Ele nem me ouviu, sei que é um computador inimitável, poderosíssimo, por isso continuou mandando mensagens inquietantes com perguntas que eu não queria responder.

-Pensa bem, seja sincera, mesmo porque você não consegue me enganar por muito tempo, como foi seu dia? Você gostou?

-Claro que gostei, estava ótimo, cercada de amigos, de amor, ganhei lindos presentes, que mais poderia querer?

-Verdade... Igualzinho aos anos anteriores, sem emoção!

-Vamos direto ao ponto, pare de rodeios. O que você quer que eu diga? Que foi monótono?Diga de uma vez o que pensa!Seja homem!

-Pronto, você mesma já disse. Nem precisei dizer... Monótono!

-Criticar você sabe, já que é tão esperto o que sugere que eu faça para quebrar a monotonia.

-Não sei ainda, mas vou pensar em algo interessante. Sair para jantar e comemorar não tem emoção, é muito comum, viajar para algum lugar e se hospedar em um bom hotel, também é besteira, vai gastar dinheiro à toa. Você já não é bebê. Acorda minha filha, daqui a pouco você é uma anciã, isso se tivermos a sorte ou azar de chegar lá, todo ano comemorando seu aniversário do mesmo modo como passou hoje, totalmente sem graça, é isso que você quer?

-Então me responda como sair desse marasmo, me diga qual a solução que vou avaliar, então me diga você, que se considera um gênio e pensa ter resposta para tudo, famoso sabichão!

-Ainda não sei, mas tenho um ano inteirinho para pensar, e antes do seu “niver” te informo. Mas se for como o de hoje, eu me mato!

-Não seja trágico. Acho bom você sossegar e me deixar dormir, caso contrario te desligo, te ponho a nocaute com um calmante bem forte. Faz um tempão que estou tentando dormir e você fica me infernizando, já rolei umas cem vezes nesta cama.

-Não, calmante não, me sinto mal, desmaio, prometo que vou parar de te aporrinhar, mas você tem que prometer que vai me ajudar a descobrir alguma coisa interessante ok?

-O.k. Mas agora se acalme, preciso dormir. Boa noite

-Tudo bem, boa noite. Feliz aniversário.

-Obrigada, agora cala a boca!

Mais um ano completado.

Menos um dia! Tudo bem...

Pude finalmente adormecer, sem aquele “tormento” me incomodando.

Escondido, o danado ainda deu alguns sinais de que ainda não estava satisfeito, pensando em como realizar seus planos. Ficou um pouquinho mais calmo, mas como sempre continuou atento.

Ele ria secretamente por eu achar que ele estava realmente dormindo, ele tinha me enganado!

Bobão. Ele pensa que não sei que ele não dorme, apenas relaxa um pouquinho...

M.H.P.M.

Helena Terrível.