RADICAL PASSAGEM

(Lá pelos anos 1950 – 1970, quando se desejava referir a um futuro muito distante dizia-se “só no ano 2000!”. Na passagem para o ano 2000, a crônica foi escrita)

Saudação entusiástica: fogos de artifícios nos céus, luzes, enfeites, festas, danças, cantos, alegria e cores mil.

Clima de novidade, de modernidade, de esperança de um novo tempo. Deslumbrante. Contagiante. Dessa vez, mudam todos os algarismos. Transformação radical, total.

O “um” depois de longo reinado (parecia eterno) cede lugar ao "dois", próximo e distante ao mesmo tempo. O "dois", antes tão longínquo, surge vibrante e vigoroso. Com pompa e circunstância se instala. Absoluto. Reinará por período igual ao do antecessor, apesar de pretender a eternidade. O tempo, soberano, não se sujeita aos vãos caprichos e desejos de ninguém. Determina. Finaliza. Impera.

O "um" solidão, egoísmo, egocentrismo, absolutismo mais que união e comum unidade se rende à reciprocidade, busca do outro, parceria, alternância, troca, convivência e oposição, relativismo, diálogo sucedendo ao monólogo e a outras idéias que o “dois” pode inspirar.

Os três “nove” foras, a prova dos “nove”, o “ nove – limite” dão lugar à trindade de “zeros”.

“Zero” perfeito, redondinho, gordinho, fechadinho, sem início e sem fim, definitivo. Tudo. Nada. Universal. Simplesmente “zero”. Zerar tudo.

Hora de construir sobre novas bases.

Repensar os valores.

Recomeçar.