ENCHENTES, O RIO QUE GEME, RESOLVE GRITAR!

Lêda Torre

Talvez pareça melodramático, mas não é. Seria cômico, se não fosse trágico, como alguém disse um dia. Seria muito bom de retratar o rio como sendo um berço de vida , prosperidade e beleza. Só que o desenvolvimento industrial do Maranhão não deu a devida atenção quanto à preservação do rio que é a principal fonte de abastecimento de água potável do estado. O estrago a cada dia se agrava e nada de concreto é pensado com o sentido de solucionar este problema que compromete o futuro de um estado cujos índices sociais não são de nos encher de orgulho, lamentavelmente.

Vale lembrar que o rio Itapecuru até o inicio do século XX foi a principal via de escoamento da produção do estado do Maranhão. Por ser um dos principais canais de transporte de produtos do interior até a capital, sua importância a nível estadual era grande. O rio só perdeu esta função após a construção da estrada de ferro São Luís - Teresina nos anos vinte do século passado e com o asfaltamento da BR-316 na década de sessenta daquele mesmo século.

A navegação a vapor estendia-se de São Luís até Caxias. Daí por diante (trecho de pequenas corredeiras) a navegação se fazia de lanchas até Colinas.

Com o passar do tempo a navegabilidade tornou-se prejudicada pela formação de bancos de areia, resultante do assoreamento que obstruía os principais canais, dificultando a passagem de embarcações de médio porte, especificamente no período de estiagem ou baixa-mar.

O Maranhão chega ao século XXI, tendo pela frente, grandes desafios a vencer na área econômica, social, ambiental, cultural, espacial e tecnológica. De todos os desafios, entretanto, um da área ambiental merece urgentemente atenção especial de todas as pessoas que residem nos 45 municípios que formam a Bacia Hidrográfica do Rio Itapecuru e tem as suas vidas vinculadas diretamente a vida do Velho rio que hoje agoniza, tristemente.

A Companhia de Águas e Esgoto do Maranhão - CAEMA, sem estudos consistentes e sem ouvir nenhum dos municípios integrantes da Bacia, nem às autoridades, nem os cidadãos ribeirinhos, em flagrante desrespeito às Leis Ambientais e às Leis Orgânicas Municipais, decidiu que a única forma de viabilizar-se para o futuro é quadruplicar a captação de água do moribundo Rio Itapecuru e ofertar o produto, prioritariamente, para uso de indústrias que estão ávidas para se instalarem nas proximidades do Complexo Portuário do Itaqui, cuja ação destruidora agravará a situação já precária do Rio, de Rosário até Mirador, e trará conseqüências catastróficas para os municípios da Ilha de São Luís, inclusive a agravante falta d’água que de forma racional, já acontece na capital em alguns bairros.

A Implantação de indústrias poluentes na Ilha, na qual se encontra localizada a cidade de São Luís, PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE, com capacidade de geração de riquezas permanentes com o uso da dimensão cultural, apresenta-se como uma imensa contradição que a história já provou ser verdadeira. Essas grandes indústrias que se instalaram em São Luís, todas elas beneficiadas com generosos incentivos pagos pela sociedade brasileira, não tiveram a sensibilidade para destinar parte de seus lucros pelo menos para amenizar os graves impactos negativos que têm causado à Ilha. A miséria e a pobreza aumentaram; os empregos são em número reduzidos pela automação bempregos, e se, geralmente, destinados a candidatos de outros Estados, com maior qualificação; os derramamentos de óleos na Baia de São Marcos são rotineiros e, com isso, sofrem os mangues e seus residentes naturais - caranguejos, peixes, sururus, camarões e, principalmente, as famílias pobres que sempre tiveram nos mariscos a garantia da sobrevivência.

A CAEMA já retira do Rio Itapecuru, desde 1983, um volume de água que tem modificado sobremaneira as suas condições geoambientais. Vários estuários e córregos já desapareceram. Há locais, antes navegáveis, que hoje se atravessa a pé. Os peixes, antes existentes em abundância, atualmente são raros e de pouca diversidade. As marés, pela diminuição da lâmina d’água, cada vez mais avançam rio acima comprometendo, inclusive, a utilização de água para consumo humano.

A CAEMA nunca alocou um centavo da receita advinda com a venda da água do Rio Itapecuru para atividades de preservação ou conservação da Bacia Hidrográfica, nem se empenhou para que recursos conseguidos da Comunidade Européia, a fundo perdido, fossem aplicados pelo menos para impedir os impactos na região onde nasce o rio.

A atual diretoria da CAEMA, é extremamente competente na função de tentar enganar a todos, talvez instruída por grupos empresariais que desejam o controle da empresa, através do processo de privatização, mas querem receber uma Empresa que possa gerar milhões de dólares anualmente, não fornecendo água para as periferias pobres de São Luís, e sim para grandes conglomerados industriais.

No seu passado, poderíamos escrever páginas assim: “Transportando a pimenta, o óleo e os produtos de São Luís. Os vapores navegavam no Itapecuru, levando consigo a produção agrícola dos lugares que o margeavam. Os vapores mais conhecidos foram: "São Pedro", "Rui Barbosa", "Gomes de Castro", "São Salvador", "Ipiranga", "O Maranhense", "São Paulo", "Santo Antônio", "Carlos Coelho" e "Balão". O "Gomes de Castro", foi um dos primeiros a navegar nas águas do rio Itapecuru. Anos depois, o "O Maranhense" naufragou adiante do porto da Gameleira, tendo sido trazido para a cidade de Codó, uma de suas partes, pelo conceituado médico da cidade, Dr. José Anselmo de Freitas. Destino igual ao "O Maranhense", tiveram também "Carlos Coelho" que naufragou em águas do rio Mearim, e o "São Salvador", que transportara o presidente Afonso Pena, quando de sua viagem até Caxias, naufragou num lugar chamado Caixeira, no município de Rosário, anos depois.

Segundo o escritor Nascimento de Morais “a fábrica no inicio do século intensificou, sobremaneira a navegação marítima já então acentuada, pois saía de Codó a produção têxtil somada à mercadorias diversas já existentes. A fábrica produzia o melhor fio do estado, dentre os seus padrões destacavam-se os tecidos "Floriano" e "Itapecuru".

Ainda no início do século uma morte consternava toda a cidade. Um belo pé de sapucaia no local onde é hoje Largo Renê Bayma ornava junto com o riacho que corria por baixo de uma rampa no lugar onde, hoje funciona o cinema, ponto de atração da época. Na Rua da Vala, perto da capela de São Benedito, moravam os empregados de Simeão de Macedo. Na rua do Mato, que saía do largo do balão em direção à casa de saúde, houve um grande incêndio, que destruiu dezenas de casebres. Era a Rua do Mato o centro de atração dos festejos de Santo Antônio.

Na década de 1900, Codó foi visitada pelo ilustre presidente Afonso Pena. Chegou a bordo do vapor São Salvador, viajando com destino a Caxias, durante sua estada no Norte do Brasil. Reteve-se, para conhecer, pessoalmente no Maranhão, às más condições de navegação do Rio Itapecuru até a cidade de Caxias. Ao meio dia, ancorava na rampa da Igreja o vapor conduzindo o presidente, para quem já se havia preparado um banquete na casa de José Cândido Ferreira. A banda de música de Alcides de Oliveira, presente ao acontecimento, executava belos dobrados em homenagem ao presidente. A viagem, porém, o havia deixado bastante cansado, pois marcada por sucessivos encalhes da embarcação, que serviram para que o presidente viesse, após o seu retorno, a conscientizar-se da real necessidade de construção da estrada de ferro, que tinha no Dr. Benedito Leite o impulsor maior do seu decreto. Sem ao menos tocar na comida, Afonso Pena desculpou-se, agradecendo as manifestações. Embarcou no Vapor e rumou para Caxias. O resultado dessa viagem foi extremamente benéfico para o estado, pois já em 1905, o engenheiro Carvalho de Almeida, procedia ao reconhecimento da zona onde se assentariam os trilhos da nova Ferrovia, ligando São Luís a Caxias, posteriormente a Cajazeiras (Timon).

Em 03 de fevereiro de 1905, era sancionado pelo presidente da República o decreto Lei no. 1.329, que determinava a construção de uma estrada de ferro São Luís - Cajazeiras, no Estado do Maranhão. As despesas foram calculadas em dezessete contos e duzentos e dezesseis mil réis. Abriu-se a concorrência e três propostas foram apresentadas.”

E como as coisas na vida não são como imaginamos, vejamos as controvérias, o homem destrói e o velho rio grita de sofrimento, como no trecho de uma reportagem nos jornais do Brasil inteiro, a saber: “Cantanhede (MA) - A cheia do Rio Itapecuru, um dos maiores rios do Maranhão – com cerca 1.500 km de extensão e banha mais dez cidades -, está deixando centenas de desabrigados no interior do estado. Cantanhede, a 158 km de São Luís, é um dos municípios que está sofrendo com as enchentes: cerca de 500 pessoas encontram-se desabrigadas. O prefeito do município, José Martinho (DEM), decretou estado de calamidade pública.

Várias famílias foram obrigadas a deixar suas casas. Estradas da zona rural estão impossibilitadas do tráfego de motos e carros, o que deixa muita gente sem acesso a sede do município. Algumas pontes estão cobertas pelas águas.

Devido à enchente, a Estação de Captação da Companhia de Águas e Esgotos do Estado do Maranhão (Caema) foi destruída e as cidades de Cantanhede, Matões do Norte e Miranda do Norte estão sem o fornecimento de água. A Caema ainda não deu previsão para o retorno do abastecimento de água nos três municípios.

O excesso de chuva tem, também, elevado o número de interrupções no fornecimento de energia elétrica. As áreas mais atingidas são: rua 1º de maio (Centro da Cidade); bairros de Vila Cabeção, Vila Monteiro, Caixa D’água, Ingá, Trizidela; e os povoados de Vila Nova, Candiba, Garrafinha, Pataqueira, Fumaça, São Domingos, Pitomba I, Pitomba II, Cachoeira, Santa Luzia, Cachimbos, Peritoró, Galvão, São Patrício, Bom Gosto, Marajá e Mangueirão.

O município tem em seu histórico grandes enchentes provocadas pelo Rio Itapecuru, como as dos anos de 1924, 1934, 1974 e 1986. O Itapecuru e cinco afluentes que passam pelo município (Rio Peritoró, Rio Jundiaí e os igarapés dos Cachimbos, dos Lopes e Garrafinha) contribuem para as grandes inundações.”

___Colinas-Ma., férias julho de 2010___________________________

Lêda Torre
Enviado por Lêda Torre em 03/08/2010
Reeditado em 03/06/2015
Código do texto: T2417090
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