A Revolta da Calçada
- É isso que está vendo. Dá pra ficar de boca fechada? Não dá! Todos os dias, as pessoas que passam por aqui, olham pra mim e dizem:
- Mas que horror!
Como se eu fosse culpada. Bem que gostaria de estar sempre limpinha, sem nada desse mato invasor. Mas que posso fazer? Me cimentaram aqui com a condição de ser o lugar seguro para todos os passantes. Daí veio esse mato intruso foi avançando... avançando... até que me cobriu assim. Bem que tenho gritado por socorro, mas parece que as pessoas são surdas. A única coisa que sabem dizer é: - Mas que horror!
Às vezes olho através desse alambrado e vejo tudo limpinho aí dentro dessa Área de Lazer e me pergunto:
- Se limparam aí dentro por que não fizeram o mesmo comigo aqui fora? Afinal de contas não estou circundando a área? Ou será que por estar aqui do lado de fora, sou uma calçada insignificante, inexpressiva?
Outro dia ouvi seu vizinho dizer que ia cuidar de mim, melhor dizendo, do pedaço que fica do outro lado de sua casa, mas acho que desanimou.
Cá entre nós, eu o entendo perfeitamente. Isso não é obrigação dele. Para manter a limpeza das ruas ele paga impostos, não é verdade?
É obrigação do Setor de Limpeza da Prefeitura, não é? Se eles vieram e limparam a Área de Lazer, porque não me limparam também?
Você não poderia me ajudar pedindo a eles que venham o mais rápido possível arrancar esse mato que me sufoca? Diga a eles que fui criada para dar segurança aos passantes, mas estou impedida de fazê-lo, pois esse mato intruso me impede de realizar meu trabalho.
Além disso, já não agüento mais ouvir todo mundo que passa por aqui dizer:
- Olha só o horror que está essa calçada!
- Acalme-se, amiga, eu a ajudarei! Hoje mesmo falarei com aqueles que são responsáveis por você. Prometo!
Do Livro: "Denúncias Poéticas, Contos e Crônicas" - Pág. 16