MODERNIDADE QUE AFASTA

Ainda não passava das vinte horas e, de repente, as luzes da cidade se apagam. O incidente, como nos informou a companhia distribuidora, deveu-se a um acidente automobilístico, cuja previsão de reparo era de duas a três horas.

Com a falta de energia, observei um fenômeno interessante. As pessoas começaram a sair de seus ambientes privados e, aos poucos, foram procurando a companhia umas das outros para conversar. Foi aí que percebi o quanto a vida moderna tem nos afastado do convívio social.

Ao contrário do que ocorre nas cidades do interior, os citadinos, pelo menos os de classe média, ao chegarem em casa vão direto para seus quartos, onde permanecem a maior parte do tempo.

Nos dias de hoje, a maioria dos membros dessas famílias têm seus próprios quartos, devidamente equipados com telefone, televisão, computador, etc.

As refeições, quando isso é possível, são o único momento de interação familiar. O que é uma pena, pois família que come junta permanece unida para sempre. Vejo, com tristeza, que o avanço tecnológico, sobretudo na área da informação, enquanto possibilita, por um lado, a aproximação virtual dos que estão distantes, dá ensejo ao afastamento dos que estão próximos. E isso é muito ruim para a sociedade.

Quando penso nisso, sinto saudades de minha terra, onde o melhor passatempo, depois de outros contatos mais íntimos, era o bate-papo nas calçadas. Lugar de trocas de informações e de fortalecimento dos laços de amizade, hoje tão distantes.

Isso me faz pensar em nossa saúde mental, pois acho que um bom relacionamento social contribui eficazmente para a nossa saúde mental. Enquanto isso, não sei a que conclusão a ciência chegou, mas tenho a impressão de que a doença de Alzheimer tem sido mais frequente nas cidades grandes, exatamente, por conta do esfacelamento desses laços. Para mim, o ato de conversar, além de ser maravilhoso para o convívio social, contribui de forma salutar para a nossa saúde mental. É algo em que devemos pensar.

Por outro lado, como já sou quase um eremita, tenho sido beneficiado pela modernidade, vez que me dado a oportunidade de manter esse contato com os amigos do recanto. Pelo menos, isso, antes que o Alzheimer me alcance.

Luis Gentil

Agosto/2010