"Vou te contar"
Da cidade de Parnaíba, Piauí, recebo o livro “Vou de contar”, de Dilma
Ponte. Ela é professora universitária e bancária aposentada do Banco do Brasil, imortal da Academia Parnaibana de Letras.
Adentrando ao seu livro de crônicas, como gosta de escrever, vi uma série de narrativas simples, com raízes na vida humana, no nosso dia-a-dia. Parabéns bem fortes pela cronista que é, autora também de “Histórias de Marilu” e “Assim é a vida”, seus livros anteriores.
Testemunha do seu tempo, Dilma Ponte coloquial e sempre afetuosa, diz gostosamente da vida do seu povo e nos leva a uma viagem ao cotidiano, com tudo o que ele exige de lágrimas, sangue e sacrifício, mas também alegrias, festas e prazer nas pequenas coisas.
Da terra do poeta Torquato Neto e do escritor Assis Brasil, que por sinal escreve a contracapa do livro “Vou te contar”, Dilma Ponte é uma importante escritora piauiense da atualidade. Graças à internet, que “coloca em diálogo pessoas que antes estavam confinadas na condição de receptoras*”, conheci Dilma Ponte e com ela troquei figurinhas. Mandei pelo correio meu último livro, “Biu Pacatuba – um herói do nosso tempo”, que ainda não chegou no seu destino. Deve estar viajando pelo rio Parnaíba, e encalhou nas coroas do “Velho Monge”, mais um rio vítima do crescente assoreamento. Somos dois habitantes ribeirinhos, eu que moro na beira do rio Paraíba, e ela habitante das barrancas do rio Parnaíba. Os dois rios condenados a desaparecer nos próximos 50 anos, segundo previsões pessimistas de ambientalistas da Paraíba e do Piauí.
Mas o que não vai morrer tão cedo é a boa literatura. Pertence o livro de Dilma Ponte a essa boa literatura que se pratica no Piauí hoje em dia, que fala de vida comum, mas povoando de luz as aparentes insignificâncias do cotidiano. Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe, sentenciou Oscar Wild. Os causos de Dilma Ponte são como que restaurados pelo imensurável espanto da palavra. Como disse Clarice Lispector, “A palavra é o meu domínio sobre o mundo.”