Cana dá
Há pouco tempo um canal de televisão peruana noticiou a liberação da maconha no Canadá para fins medicinais. Os cientistas esclarecidos observaram onze propriedades curativas na plantinha endemoninhada pela idiotia religiosa e espartana do mundo. (Aviso aos navegantes: prefira a maconha a colocar seu filho amarrado em balões coloridos porque pelo menos ele poderá comemorar vários aniversários em casa ainda que um pouco avoado e risonho). A notícia não foi divulgada no Brasil porque a tendência informativa é de manter a linha do mal absoluto desse vegetal, explorado, claro, pelas facções do crime com apoio da obscuridade legal. Para fins espirituais temos duas drogas sociais: vinho e ayuasca. Na realidade sentimos que os meios de comunicação fracassam graças a fórmula de ler a vida para criaturas inocentes, mas tão virginais que beiram ao terreno insosso da imbecilidade. Tendo estas o dom de tirá-las da virgindade virtual para o fascismo graças ao efeito brutal da periodicidade.
Os canadenses preferem que a população usuária fume maconha com características medicinais, e não aquelas encontradas minadas pelas impurezas sanguinárias do tráfico periférico. Na verdade a liberação acaba por desfazer a clandestinidade que a condição de ilegalidade favorece.
Já a ala política evangélica, como se não bastasse as demais agora temos mais essa, acordaram com o Partido do Trabalhador (aquele que só trabalha) em não tocar em temas caros ao mundo religioso. Para obter devido apoio político de mais esses espirituais a campanha de Dilma R. aceita o gambito em troca do poder. O aborto como a droga receberá o cinismo moral da atualidade para os crimes da irracionalidade no futuro.
De volta ao Canadá uma das razões inteligentes para por fim a qualquer histeria sobre as drogas do tipo ruína familiar, (leia-se Roberto Freire, Sem Tesão Não Há Solução) ou qualquer baboseira de efeito escada a Z.H. de domingo nos brindou com um artigo de Marco Rollin. Lá está o texto corajoso sobre a descriminalização das drogas. O colaborador reporta vários êxitos de cura do crack pela maconha. Nenhuma novidade não fosse o próprio meio de comunicação depreciar o universo das drogas e dos drogados, como único efeito do horror, já que a medicina entregou as delegacias a sua própria contradição farmacológica.
Aspirinas a parte os canadenses encontram no cuidado com o tipo de erva a ser consumida o mais puro respeito ao consumidor. Nós brasileiros aceitamos fumar cigarros com propriedades de envenenamento realmente notáveis, com aviso na caixinha, proibindo moralmente a erva boa, ainda que erradia, por falta de delicadeza senatorial. Fuma-se melhor a sombra da lei, portanto vivemos o fracasso da sociedade inclinada ao espiritualismo fóssil das distorções do passado no oriente remoto, mas político, portanto somos incapazes de compreender tudo aquilo que julgamos sob o prisma das ilusões santificadas.
Ó mundo besta submisso aos psicotécnicos e as caricaturas de educação para o grande trânsito das desonestidades intelectuais...
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