OPÇÕES
Andam dizendo que o mundo está doido e, por um momento, acreditei que estava mesmo.
O calor insuportável daquele sábado de fevereiro parecia confirmar que a Natureza endoidecera de vez.
A ausência de brisa fresca à beira mar, que geralmente acompanha o pôr do sol na preparação de mais uma noite fresca de verão, levou-me a pensar que alguém lá de cima não percebera que o sol se pôs, pelo menos há duas horas. Quem poderia assegurar que o “controller” não estava doido também?
Incomodados com o calor, eu e minha mulher decidimos por um passeio ao molhe da Barra da Tijuca à procura de brisa que ali é constante.
Esse molhe avança cerca de uns cem metros mar adentro, alinhado a uma grande rocha à esquerda, formando a boca de entrada da água do mar. Água que abastece o complexo de lagoas de Jacarepaguá. À direita, a praia da Barra. Areias brancas, finas, se estendem por vinte quilômetros até o Recreio, onde moramos.
Por cima do molhe, um calçadão termina em forma de pequena praça circular, de onde se aprecia a força das ondas a quebrar nas pedras, produzindo os famosos véus de noiva. Às vezes, alcança perto de oito metros de altura. Lindo espetáculo da Natureza, mesmo doida, se estivesse.
Como nós, várias pessoas aproveitavam aquela noite – casais enamorados, famílias em conversas animadas, crianças em algazarra, pescadores, ciclistas...
A praia estava cheia. Parecia que não perceberam a noite chegar. Claro que perceberam! É moda, agora, no Rio, frequentar praia à noite.
Alguns dormiriam ali mesmo, em suas barracas improvisadas, para desfrutarem o domingo de praia.
Pescadores de fim-de-semana lançavam tarrafas sobre as ondas, grandes cogumelos, na esperança, seguidamente renovada, de pescar alguns quilos de tainhas. Crianças e suas loucas bicicletas, como em picadeiro de circo, exibiam exuberante vitalidade... Ah, tempo bom o das bicicletas... mesmo com os joelhos ralados...
Não resistimos e, embora sem roupas de banho, arriscamos molhar os pés nas marolas que quebravam mansamente na areia. Eu dei uns mergulhos, de bermuda mesmo. A temperatura da água estava ótima e o mar, calmo.
Finalmente, o vento leste começou a soprar, fazendo-nos esquecer o calor do dia, confirmando a tradição de lugar aprazível. Lua cheia, céu salpicado de pontinhos brilhantes, completavam, contemplavam, tudo. Ficamos ali na areia, calados e, instintivamente, em um gesto de completude, nossas mãos, à procura uma da outra, se juntaram, como um brinde àquele momento singular.
De repente, o encanto daquele momento mágico foi quebrado. Saímos do transe hipnótico. Repentina chuva de verão? Não. Raios anunciando a chegada de temporal? Não. Tombo de criança de bicicleta? Também não. Apenas uma exclamação!
“ — Marilza, minha filha, vambora rápido se não a gente vai perder o Big Brother!”
Alheia ao cenário encantador e tocante do lugar, uma senhora de meia idade chamava pela filha.
Fiquei imaginando o que leva uma pessoa a trocar vida por não-vida.
Reconheci, então, que o mundo não endoidecera e a Natureza continuava promovendo o equilíbrio divino. Tentava nos mostrar que existem outras opções de vida – e das boas – além da poltrona em frente à TV.
Doido?
Quem?
Andam dizendo que o mundo está doido e, por um momento, acreditei que estava mesmo.
O calor insuportável daquele sábado de fevereiro parecia confirmar que a Natureza endoidecera de vez.
A ausência de brisa fresca à beira mar, que geralmente acompanha o pôr do sol na preparação de mais uma noite fresca de verão, levou-me a pensar que alguém lá de cima não percebera que o sol se pôs, pelo menos há duas horas. Quem poderia assegurar que o “controller” não estava doido também?
Incomodados com o calor, eu e minha mulher decidimos por um passeio ao molhe da Barra da Tijuca à procura de brisa que ali é constante.
Esse molhe avança cerca de uns cem metros mar adentro, alinhado a uma grande rocha à esquerda, formando a boca de entrada da água do mar. Água que abastece o complexo de lagoas de Jacarepaguá. À direita, a praia da Barra. Areias brancas, finas, se estendem por vinte quilômetros até o Recreio, onde moramos.
Por cima do molhe, um calçadão termina em forma de pequena praça circular, de onde se aprecia a força das ondas a quebrar nas pedras, produzindo os famosos véus de noiva. Às vezes, alcança perto de oito metros de altura. Lindo espetáculo da Natureza, mesmo doida, se estivesse.
Como nós, várias pessoas aproveitavam aquela noite – casais enamorados, famílias em conversas animadas, crianças em algazarra, pescadores, ciclistas...
A praia estava cheia. Parecia que não perceberam a noite chegar. Claro que perceberam! É moda, agora, no Rio, frequentar praia à noite.
Alguns dormiriam ali mesmo, em suas barracas improvisadas, para desfrutarem o domingo de praia.
Pescadores de fim-de-semana lançavam tarrafas sobre as ondas, grandes cogumelos, na esperança, seguidamente renovada, de pescar alguns quilos de tainhas. Crianças e suas loucas bicicletas, como em picadeiro de circo, exibiam exuberante vitalidade... Ah, tempo bom o das bicicletas... mesmo com os joelhos ralados...
Não resistimos e, embora sem roupas de banho, arriscamos molhar os pés nas marolas que quebravam mansamente na areia. Eu dei uns mergulhos, de bermuda mesmo. A temperatura da água estava ótima e o mar, calmo.
Finalmente, o vento leste começou a soprar, fazendo-nos esquecer o calor do dia, confirmando a tradição de lugar aprazível. Lua cheia, céu salpicado de pontinhos brilhantes, completavam, contemplavam, tudo. Ficamos ali na areia, calados e, instintivamente, em um gesto de completude, nossas mãos, à procura uma da outra, se juntaram, como um brinde àquele momento singular.
De repente, o encanto daquele momento mágico foi quebrado. Saímos do transe hipnótico. Repentina chuva de verão? Não. Raios anunciando a chegada de temporal? Não. Tombo de criança de bicicleta? Também não. Apenas uma exclamação!
“ — Marilza, minha filha, vambora rápido se não a gente vai perder o Big Brother!”
Alheia ao cenário encantador e tocante do lugar, uma senhora de meia idade chamava pela filha.
Fiquei imaginando o que leva uma pessoa a trocar vida por não-vida.
Reconheci, então, que o mundo não endoidecera e a Natureza continuava promovendo o equilíbrio divino. Tentava nos mostrar que existem outras opções de vida – e das boas – além da poltrona em frente à TV.
Doido?
Quem?