Jô Soares, seu miserável!
Quem me conhece, com toda certeza já deve ter ouvido que um dos meus maiores sonhos é ser um dos entrevistados do programa do Jô Soares porque além de eu gostar muito do programa, acredito que seja a grande vitrine das pessoas que conseguem fazer algum tipo de arte ou contribuir com literaturas no Brasil.
Sou um profundo admirador e mesmo que não consiga assistir ao programa durante a exibição na TV Globo, busco o auxílio do Youtube e posso contar com a reprise do GNT, aos domingos.
Pra se ter uma ideia, eu me cadastrei no site do programa e recebo a newsletter contendo a programação de entrevistas no dia. E, eis que num dia desses abro o meu e-mail e vejo que os entrevistados seriam Zuenir Ventura, Arthur Dapiéve e Luiz Fernando Veríssimo.
Vibrei muito de ter a oportunidade, quase rara, da aparição de Luiz Fernando Veríssimo num programa de tevê, pois o trio falaria do livro “Conversas sobre o Tempo”, onde Veríssimo e Ventura discorrem sobre vários temas, sob a análise e intermediação de Arthur Dapiéve.
Resisti ao sono (pois era o mínimo que eu poderia fazer para ouvir o que o mestre, Veríssimo, tinha a dizer).
Veríssimo demonstrou ser uma pessoa tímida, não muito eloquente e Jô Soares não ousou estimular os entrevistados para que contassem algumas experiências pitorescas e divertidas que sempre promovem a nossa descontração.
Foram dois blocos do programa e algumas perguntas sobre o teor do livro e da sensação de Dapiéve em intermediar o encontro, da experiência da infância de Luiz Fernando com seu pai Érico Veríssimo. Ventura e Veríssimo falaram de quando começou a amizade entre eles, da paixão de Veríssimo sobre futebol e no fim do tempo do programa (obviamente, porque a entrevista na verdade, nem ocorreu), quando eu aguardava a reação da plateia. A mesma ficou em silencio e o bloco fechou normalmente.
Fiquei petrificado por alguns instantes e não consegui entender a reação (ou falta de) da plateia do programa.
Como assim não ouvimos aqueles “Ahhhhhhhs” e “Uhuuusss”tão peculiares do programa?
Tudo isso tem explicação: Estamos acostumados a que pessoas tenham a desenvoltura de um craque em ‘stand-up comedy’ e fale de forma eloquente e retórica, quando não conseguimos perceber a capacidade e talento daqueles que tem o dom de observar e produzir resultados inimagináveis de suas observações.
Luiz Fernando Veríssimo por causa de sua árvore genealógica já deveria ter sido aplaudido de pé por toda a plateia, a julgar por suas obras, não teríamos adjetivos para qualifica-lo.
Pobre mundo que acredita que o silencio nada pode dizer e que não faz questão em reverenciar a quem tem honra.
Veríssimo é um dos maiores escritores dos nossos tempos e tem trabalhos com grande repercussão nas grandes mídias, mas o seu jeito tímido, talvez, o tenha privado de receber a reverencia pela pessoa que é.
Lembro-me do excelente clássico cinematográfico Uma mente brilhante, estrelado por Russel Crowe, onde retrata a historia do matemático John Nash, desde quando ele ainda era universitário, e numa das cenas do filme ele vê a reverencia de diversos professores a um professor jubilado e depois de ter controlado os distúrbios da esquizofrenia e ter sido indicado para o Premio Nobel, recebe a honraria de diversos acadêmicos, que num gesto simples, porém, lindíssimo, põe suas canetas sobre a mesa que John tomava o seu chá, num sinal de respeito pela obra do mesmo.
Eu não tive a oportunidade de encontrar com Veríssimo, para um chá, mas faço uso da minha caneta, mesmo que virtual, para reverenciar a sua obra e destacar que temos que absorver o máximo daqueles que muito tem a oferecer.
Para terminar, parafraseio Vinícius de Moraes: Que me perdoem os ignorantes, mas inteligência é fundamental.
Post Scriptum: Ainda continuo com o meu sonho e fã do programa...rs