Kurt Masur
Assisti em 2006, ao concerto da Orquestra Nacional da França, cujo Diretor Musical é o Maestro Kurt Masur, numa quinta-feira, dia 28 de setembro, no Teatro des Champs-Elysées. Da programação constavam a Sinfonia nº 8 em si menor D. 759, a Inacabada de Schubert e a Sinfonia nº 13 em si bemol menor op. 113, para baixo, coro de baixos e orquestra de Chostakovitch. Regência do Kurt Masur, o barítono-baixo Serguei Leiferkus e o Coro masculino da Radio de França. Na ocasião, verifiquei estar o maestro com a saúde precária, com parkinsonismo, regendo com dificuldade de movimentos. Imaginei que, provavelmente, aquela fora a última chance de vê-lo na ativa.
Fui procurar informações sobre o maestro no livro “A Arte da Regência” do renomado ensaísta e historiador Sylvio Lago Junior, titular do P.E.N. Clube, com inúmeros livros sobre musica publicados com sucesso. Na edição de 2002 consta Kurt Masur nasceu em 1927, conceituando a múltipla vocação no campo da música e cultura artística musical, o crítico francês Jean-Marie Bröhm, o chamou de “Kapellmeister humanista”. Foi titular da Filarmônica de Nova York e foi responsável pelo Gewandhaus de Leipzig.O maestro tem vindo ao Brasil desde 1970. Segundo conta Sylio Lago em seu livro (p.444) no Rio de Janeiro, o violinista Isaac Stern recusou-se a tocar com Masur sob o pretexto de ser este alemão.
Voltei a assistir Kurt Masur, sábado passado, dia 31 de julho de 2010, no Municipal, regendo Romeu e Julieta – Abertura fantasia, de Tchaikovsky, no início do concerto, e ao término regendo Porgy and Bess Suíte – Quadro sinfônico de George Gershwin. Teve como companheiro de programa, seu filho Ken-David Masur, que regeu Romeu e Julieta – Excertos de Sergei Prokofief e as danças sinfônicas de west Side Story de Leonard Bernstein. Antes da segunda parte dos concertos, o Diretor da Orquestra sinfônica Brasileira Roberto Minczuk contou aos presentes, que na visita ao Brasil em 1970, Kurt Masur regeu a OSB e que ao voltar ao Rio de Janeiro em 1972, apaixonou-se por uma violinista da orquestra, uma japonezinha com quem veio a casar, e disse ele, hoje neste palco, pai e filho maestros, tocam com a OSB assistidos pela esposa de Masur e mãe de Ken-David. O público aplaudiu com entusiasmo.
Ao terminar Gershwin, Masur foi ovacionado delirantemente pela platéia, compreendendo sua arte e seu esforço de superação da doença. O público não parava de aplaudir de pé e o velho maestro não teve outra alternativa, senão convocar a orquestra para um bis. Anunciou aos presentes, que tocariam a marcha nupcial de Felix Mendelsohn e acrescentou: “To my wife”. Aos acordes iniciais, o público já aplaudia entusiasticamente. Notei que Masur aos poucos perdia a agilidade, certamente tomado pela emoção; de súbito, sobe ao palco, Ken-David Masur, seu filho maestro, abraça-o e beija seu rosto e assume a regência abraçado ao pai, diante da emoção incontrolável de todos, termina de maneira apoteótica a apresentação; o público em delírio, caminhando em direção ao palco, a esposa de Masur chorando, o Minczuk, os músicos e eu também...Foi um espetáculo inesquecível de talento, amor à música, de emoção á flor da pele e dois nomes que imortalizaram o palco do Municipal: Kurt Masur e Ken-David Masur com a única coisa que pode superar a música num palco de teatro – o Amor. Fica o registro especialmente para o Recanto das Letras.