Que saudade da Estação de Mumbaça!

Assim era chamada a nossa Estação, posteriormente passou a ser chamada também de Estação de Mineiro, onde o trem fazia as suas paradas para o sobe e desce de pessoas e mercadorias. Na partida de Souza a Mossoró, essa parada acontecia em nossa cidade às 5:00 horas da manhã. Ao retornar do seu percurso, o trem fazia sua segunda parada do dia aqui, às 19:00 horas.

Esse momento era de grande espera para todos os moradores da pacata cidade Frutuoso Gomes, não somente para quem ia viajar, mas também, para quem se sentava na calçada para ver passar aquele vagão imenso, onde de longe, podíamos ver somente as cabeças dos viajantes pelas janelas claras do trem, como também para os jovens da nossa cidade, que tinham esse momento como único do dia, para uma breve descontração.

Lembro-me como se fosse hoje: com o peito fumegante, olhava repetidamente para meu braço esquerdo, para visualizar a hora no meu pequeno reloginho de ouro que meus pais me presentearam com o lucro que tiveram ao vender o algodão.E quando o ponteiro marcava 19:00 horas, nossas expectativas aumentavam, a sineta batia forte para avisar a todos que mais um dia , o Trem de Ferro acabava de chegar na Estação de Mumbaça. E com um forte apito na chegada, após vencer tantos cortes e pontilhões, trazia para nossa cidade muitas coisas importantes: encomendas, pessoas que tinham pegado o trem pela manhã, e o melhor, muitos filhos que encontravam-se ausentes por questões de sobrevivência, o trem também trazia de volta para matar a saudade dos familiares que aqui sofriam pela distância que os separaram um dia.

E os casais de namorados? Ah!...Tudo que acontecia era com muita simplicidade. Parecíamos perus rodando na estação, mas a cada volta que completávamos, encontrávamos com o nosso paquera, (que por sinal durava meses para sair um namoro), e era um momento de grande alegria aquela troca de olhar e um sorriso largo, como quem dizia um para o outro: “quero você”. Mas tudo isso acontecia quase que às escondidas dos nossos pais, a quem devíamos grande respeito.

Esse momento era questão de alguns minutos, porém, o tempo não passou para mim, pois guardo-os com grande recordação. E novamente, ouvia-se mais um apito, o trem avisava a toda a comunidade, que mais uma vez estava partindo. Partindo para não parar, porque no outro dia, cedinho, estava novamente nos proporcionando novas alegrias.

Como seria bom se ainda pudéssemos contar com esse tão precioso serviço a mercê dessa população que não teve sequer o direito de desfrutar de um pouquinho dessa descontração tão sadia que tínhamos.

Para mim, resta as belas lembranças. E hoje, o que me conforta são essas simples palavras: que saudade da Estação de Mumbaça!