Enquanto os cães ladram a carroça passa!

Velho ditado, mesmice copiada. É tal qual foi.

A terra continua sua escalada de evolução e os homens primam em manter as mesmas pequenices de sempre, como se isto lês completassem. Talvez lhes fizessem mais homem, se assim fosse possível, caráter e comportamento são coexistentes, não se pode ter um e deixar outro de lado.

Realmente os cães ladram, ficam aflitos com o desconhecido, ou que lhes causa medo, ou com o conhecido cismado, é um quê em resquícios de inveja talvez pela liberdade de estar aquele outro solto, fazendo as coisas que gosta e que quer, a passear pela estrada da vida a esmo, ou a abrilhantar a sua cultura.

Eles ladram pela incapacidade inflada em suas entranhas, aí causam suas atrozes calúnias, injúrias e difamações, pois lhes são as únicas armas que possuem em suas vazias vidas. Vidas agarradas a estes paradigmas sem cor, sem tom, sem música, sem escolha.

Enquanto a carroça passa ficam vidrados com seus olhares vermelhos selvagens como se a impotência lhes corroesse dentro do peito como a uma gastrite tão crônica que os ferem e os fazem feras, bravias e ensandecidas...

Atentam nas rodas do outro, retirando pequenas lascas de dor e sangue... E lágrimas...

Quantos não choraram e quantos ainda choram à noite sobre o travesseiro de cabeça coberta pelo cobertor? Quantos não se olharam e quantos ainda olham ao espelho se fazendo perguntas em por quês?

Tudo pelos cães.

Este ditado nos conta que eles ladram, mas não nos diz o quanto isto atrapalha a viagem. Ora mordem a roda, ora avançam sobre os animais que guiam, ora tripudiam ao cocheiro, ora espalham seus latidos sem nexo aos ventos e outros cães tão pequenos quanto só o fazem repetir e repetir e repetir.

Quem seriam os cães? Quem seria o cocheiro? Que seria a carroça? ‘Ora pois’, cada um de nós tomamos este ou aquele lado em algum momento... Mas sempre o que nos vai incomodar é quando os cães são os outros, aqueles que nos cercam, aquilo que nos anima a querer também a ser cão, a querer também apontar o dedo na rua, a esticar o pescoço, a amoecer ante nosso espírito indignado e adoecido.

O que nos leva a isso?

A que se assemelha ou se lhe parece, somos mesmo depois de crescidos pequenas crianças que grandes vicárias são. Tendenciosos a copiar, e copiar sempre o que mais sobressai: a maldade, a tragédia, o ócio e o ódio, seja aplicado a quem for, mesmo que seja ao menininho gordinho que assim levaremos pela vida aquela imagem pois tivemos o incentivo do primeiro riso e que muitas vezes são dos pais, responsáveis e dos professores, ‘que bonitinho ele já sabe fazer isso dar rasteira no outro’. ‘É assim mesmo tem que mostrar quem manda’. ‘Vê puxou o pai e suas piadinhas contra os negros, cuidado que isso é crime agora eihm, mas que foi boa foi’. ‘ Essa aqui dá até para contar na igreja é sobre judeu’. ‘O cara era tão pobre, mas tão pobre que parecia o Joãozinho que sentava ali na terceira fila lembra-se dele?’

É. Concordo que os cães ladram e a carruagem passa, mas que eles atrapalham. Ah isso atrapalham...