Pai
Resolvi manusear pela estante alguns livros, ainda inacabado em sua leitura, à procura de novas idéias, novos conhecimentos. Dentre eles, encontro no fundo da prateleira uma encadernação envelhecida, não digo empoeirada, mas esquecida. A capa quase sem cor e folhas amareladas me fez recordar.
Ao abri-lo, sua última página estava no centro do livro, pg. 61, as demais, até o final em branco. Li somente a última frase: “O dia foi ótimo. Boa Noite. Até amanhã”...
A reticência pedia continuidade e esqueci-me do que estava procurando, sentei-me calmamente no sofá e com cuidado procurei complementar:
Não me importaria se a roupa que usasse estivesse com pano em excesso ou se a sufocasse pelo aperto.
Não me importaria se os grisalhos iniciantes o dominassem por completo.
Se o sapato fossem eles bico fino ou chato - A moda sempre volta!
Se as palavras repreensivas fossem muitas vezes ásperas de mais.
Se alguma vez incompreendido, por idéias divergentes, e confronto de gerações, surgiam desentendimentos passageiros.
Se a coluna já curvada o impedia de caminhar rapidamente, dificultando os seus passos, exigindo o apoio da mão amiga para sustentá-lo, não me importaria.
Importaria, sim, que ele tivesse preenchido, mesmo com dificuldade e palavras simples, as linhas inconstantes deste diário, apenas mais uma página.
Saudade! Boa noite! Até amanhã...