TIA MARIA: MAIS UMA DAS SUAS

Lêda Torre

Tia Maria, irmã mais velha da minha mãe, ainda viva por sinal, é uma personagem super engraçada que estará presente no livro da biografia de minha mãe, ora em andamento.

Alta, morena clara, de farta cabeleira negra, cabelos longos e ligeiramente cacheados, brilhosos, de fazer inveja, a moça. Quando criança, aprontava, que só, esta é a moça que usou o colar de pedaços de cabaça, relatado numa de minhas crônicas. Quando moça, arrastavam um trem por ela, arrasava os corações masculinos da redondeza, segundo minha mãe, outras tias e os mais velhos que a conhecem desde novinha.

Era normal os abastados de grandes posses, como seu pai Senhorzão, donos de muitas terras, gados, eqüinos, caprinos, etc., como criava também muita galinha, certa vez vovô presenteou cada filha, com um casal de galo e galinha, para que as meninas começassem dali uma grande criação. E ele com certeza iria acompanhar todo o processo de crescimento das futuras criadoras.

Como naquela época o senhor fazendeiro possuía também muitos trabalhadores em suas propriedades, ele tinha o cuidado de ao comprar tecidos para fazer roupas para toda a família e agregados, comprava logo de peças destes tecidos. Minha avó era quem as costurava.

Voltando à menina Maria, às voltas com sua mais recente tarefa e ordem do pai, ficava a pensar de que maneira ela aumentaria sua criação, e pensou, pensou...até chegar a uma conclusão, que se deu assim: quando minha avó saía de casa, e vovô é claro, a menina trelosa, tratava de tirar um pedaço daqueles tecidos para fazer roupas para cada criança, uma por vez, pra que seus pais não desconfiassem de nada, e em troca da roupa confeccionada, Maria queria uma galinha ou um frango, e como todo vizinho sempre criava e tinham sempre muitas aves nos quintais, o pagamento não seria problema. E ficou assim acordado.

Passavam-se os dias, Maria, “a costureira”, ia aos poucos discretamente fazendo suas “encomendas”, e a criação aumentando, só que não dava pra ser discretamente, pois no terreiro de casa, como se diz até hoje, as aves estavam aumentando a olhos vistos, nisso com certeza ela, muito imatura ainda, nem pensou.... mas...seus pais, o seu Sinhorzão, principalmente, e sobretudo, matreiro, desconfiado, começou a observar umas aves novas no seu pedaço....

Mas...o que seria que estava acontecendo¿ aquelas aves não caíram do céu...e já percebendo que a menina Maria andava meio sem jeito, toda cheia de dedos, meio sem encarar seus pais....certo dia ele a chamou pro acocho:

- venha cá dona mocinha, que novidade é essa ali no terreiro de casa, que tantas galinhas e frangos são esses que a cada dia aparecem caras novas, e pelo que sei, não tenho comprado novas cabeças de aves, nem os ninhos têm nascido pintinhos....vamos, diga-nos o que é que estás a aprontar dessa vez, minha filha¿ aperta daqui, aperta dali, até que Maria revelou do seu novo empreendimento. Vovô até achou engraçado, a ousadia da garota, mas não se fez de rogado, deu aquele sermão e a colocou de castigo, e caso insistisse nesse negócio, o caso seria sério, ele não responderia por ele.

E foi assim,Maria, pelo menos até onde sei, ela não teimou, senão, já sabia que seu pai nunca foi de brincadeira. A coisa era muito séria.

São Luis,

Lêda Torre
Enviado por Lêda Torre em 01/08/2010
Reeditado em 03/06/2015
Código do texto: T2411697
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.