QUE MULHER É ESSA?

Noite de seresta no bar. A amiga comum os apresentou. Ele? Encantado! Meu Deus, que mulher é essa? A amiga foi dançar. Os dois sozinhos na mesa. Bate-papo gostoso. O assunto crescendo. Política, Arte, Economia, Esporte... Últimas notícias do Brasil e do mundo... Que mulher inteligente! Só? Não. Bonita também. E discreta, elegante, delicada. A voz doce! Viajou nas ideias. Seria comprometida? Na conversa sobre música descobriu que não “Meu ex-marido adorava Chico”. Hum, meu ex? Nossa, aquilo tava ficando bom...

Ela sorriu lindamente “Vamos dançar?”. Eu? Dançar? Rodopiou com ela no meio do salão. Dançava bem. Impressão? Não! Ela o apertava além da conta. Puxa, será? Não pode ser! Imaginação demais. Exaustos, foram pra mesa. O garçom trouxe os pedidos: picanha na tábua, com cebolas, batata frita, queijo quente e azeitonas. Tudo decorado com salada verde e rodelas bem cortadas de tomate. Lindo e delicioso!

Ele, cavalheiro, começou a cortar tudo em porções menores. Delicadamente, é claro. Medo de que ela reparasse no seu jeito de manusear os talheres... Ela era tão chique. Não podia cometer uma gafe. Imaginou a tragédia. A carne voando sobre a mesa. O vestido dela manchado de gordura. Que horror! Sacudiu a cabeça, benzeu-se mentalmente. A carne dura. Ou a faca ruim? Droga! Estava nervoso. Medo de decepcionar a moça. Sabia que ia rolar alguma coisa bacana ali. Não podia estragar tudo atirando um pedaço de picanha nela. Ela em silêncio. Observava cada movimento dele. Jesus! Prestava atenção em tudo! Será que estava aprovando? Ou não? Mil dólares, pelos pensamentos dela... ai, ai, ai...

De repente, a reação: bruscamente, ela arrebatou o garfo e a faca das mãos dele. Cortou a picanha ferozmente em grandes pedaços. Espetou as porções e foi enchendo a boca. Devorava. Engolia tudo vorazmente. Carne, queijo, batatinha. A folha de alface numa “trouxinha”. O tomate espetado na ponta da faca. Azeitonas, pedaços de cebola, mais batata, tomate, mais uma azeitona, um naco de picanha e... Vinho pra “hidratar”. Ufa! A tábua vazia! Boquiaberto, ele nem piscava. Ela sorriu, palitou os dentes “Outra tábua?”. Outra? “Ué, você quase não comeu!”. Não! Incrível! Sem nem disfarçar ela levou a mão à boca. Se ainda fosse chique ele diria que tinha eructado. Mas como já não era, tinha arrotado, mesmo! Que mulher é essa? Sorriu amarelo “Um minuto. Vou ao banheiro”. Saiu zunindo pelos fundos do bar...