OZILDÃO: O QUEIMADOR DE SANTA

Lêda Torre

Ozildo Sipaúba, vulgo Ozildão, filho de dona Roxa, uma gomadeira fina de profissão, engomava para as melhores famílias da cidade, mulher da vida, de cor roxa mesmo, mais do que negra, era roxa, daí o cognome. Ambos moradores do bairro Serrinha, sua casa ficava mesmo num tremendo morro, cuja altura de lá se via a cidade toda, de forma panorâmica.

Esses dois personagens, figuras do início do século XX, existiram com tantas histórias, hoje estarão na memória do povo de Colinas e muito em breve nos memoriais de nossa Academia de Letras, ora projeto em andamento.

Foi assim, a sua primeira história: Ozildão,como o próprio nome traduz, era um homenzarrão, bem alto, louro, bem apessoado, mais parecia um descendente de alemão, sabe-se lá, se não era, hein¿ olhos bem claros, de trejeitos finos como um lord , muito inteligente por sinal. Entretanto, de tanta inteligência não caber em sua mente, ficou louco. Um louco que sabia de tudo que acontecia ao seu redor, mas não agredia nem mexia com ninguém.

Um dos seus pontos fortes, era cortejar mulher bonita. E sempre que aparecia uma oportunidade, não perdia tempo, fosse ela casada, solteira, viúva, sei lá, Ozildão, chegava junto. Quando sabia na cidade que havia algum marido moribundo,ia fazer logo uma visita à candidata à viuvez, que audácia! Era assim o nosso figurão.

Era costume dele, levar sempre uma flor à sua mirada amada do seu coração, visto que perto da sua casa as flores campestres naturais eram abundantes, e isso não era problema, galantear era com ele mesmo!

Apaixonava-se com a maior facilidade, mas com essa mesma facilidade, desapaixonava também, bastava que outra mulher bonita, lhe enchesse os olhos e o seu descarado coração. Ou mesmo um fato novo ao seu redor, pois ele andava ligado em tudo. E o curioso era que ele andava a passos lentos com aquelas pernonas gigantes, prestando atenção em mínimas coisas e detalhes.

Meio a tudo isso, o nosso figurão, tinha suas crises retardatárias, digo, não vividas quando ainda era criança. Uma coisa que ele detestava sempre foi de alguém prometer e não cumprir, ele não respondia por ele, não. Foi o seguinte: quando criança prometeram ao menino Ozildo que ele teria uma madrinha de batismo, seria Nossa Senhora da Consolação, a padroeira da cidade, e o garoto cresceu ouvindo isso, e sempre perguntava aos adultos quando ela iria lhe dar presentes, visitá-lo, etc...e nada de satisfazerem a suas indagações...

E foi isso que ia cada dia lhe chateando cada vez mais... ele via os padrinhos dando tudo isso aos afilhados e ele nada. Isso jamais saira de sua cabeça. E já rapaz, gostava de ir às missas, e foi num dia desses de domingo, ali ajudando a fechar a igreja, quando já de plano, tirou o ferrolho de uma das janelas que ficava perto do altar da santa, sua madrinha fajuta, segundo ele...ela que o aguardasse...sem que ninguém percebesse, nem o sacristão, que sempre saía por último, o rapaz Ozildo se viu sozinho e enrolou a santa do tamanho de uma mulher adulta, nos cortinados do altar e fugiu com destino à sua casa, isso bem tarde da noite, somente com a luz da lua, pois nesse tempo a cidade não tinha luz elétrica de 24 horas, era a motor diesel, que depois de 22 horas , a cidade ficava às escuras.

Até ali, nem um pé de cristão viu o fato, para testemunhar o feito do Ozildão. Foi para os fundos de sua casa e ateou fogo na Santa sua madrinha duma figa, ela nunca mais o enganaria!! Pensou o louco...nem sua velha mãezinha vira nada, já dormia, pois era alta noite. E imaginem só no dia seguinte:a cidade em polvorosa, cadê a santa, roubaram a padroeira da cidade, mas quem foi¿ quem teria feito um desatino desses¿ passou foi tempo e ninguém nunca desconfiara de nada, pois o nosso herói, apesar de louco, nunca tinha aprontado uma coisa dessas, ainda mais que ele era fiel nas missas e lá se comportava direitinho.

Só que com o passar dos anos, certo dia o próprio Ozildão declarou aos quatro cantos da cidade e disse como tudo aconteceu, e ninguém acreditou nele, afinal era um louco... fazer o quê¿

_________Colinas-Ma, férias de julho de 2010_______

Lêda Torre
Enviado por Lêda Torre em 01/08/2010
Reeditado em 03/06/2015
Código do texto: T2411374
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