O ACENDEDOR DE CIGARROS

Lêda Torre

Nestas redondezas, nós ouvimos muitas histórias engraçadas, algumas pitorescas, bem a nossa cara, a nossa infância, e que são materiais fartos para minhas crônicas.

Uma dessas histórias, parece até piada, mas não são, aconteceu de verdade.

Foi assim: em certa época de festejos perto de Colinas, num lugarejo chamado Santa Rita, também conhecido como Caranguejo, onde até hoje no final do mês de julho, local de romaria, e agrega muita gente de todo Brasil e até do exterior.

Pois bem, diz-se que todos os anos é tanta animação, tanta reza, muita comida e bebida e a festo a pra completar, é a base de muito arrasta-pé, forró pesado mesmo, e bem perto dali, as águas do rio Itapecuru para apaziguar o fogo provocado pelo remelexo de tanta gente.

Numa dessas noites de festejos, após tanto suor, dança e muita pinga da terra, dois velhos amigos de farras , prá lá de bêbados, resolveram vir a pé, de volta pra Colinas. Meio longe, os dois não achando, creram que dariam conta da travessia da estrada longa pela longa noite truva. Foram-se. Mas não se esqueceram dos seus cigarros, porém não se lembraram do costumaz isqueiro.

A estrada não estava de brincadeira, era carroçal, longa e escura. Chegava a dar medo! Só que um deles foi urinar logo ali na beira do matinho que cercava o caminho dos amigos, enquanto o outro prestava atenção se viria alguém e que tivesse “fogo” de preferência , para acender o tal cigarro. A vontade de fumar era tanta!

Mas ambos voltaram a se indagar: cadê mesmo o fogo¿, disse um deles, “ mas que fogo¿, redargüiu o outro bebum. Sabem, conversa de bêbados, é sempre assim. Sem nexo. Pois bem, aguardando que viesse um filho de Deus com fogo, se deram conta que logo mais vinha um montão de luzeiros acendendo e apagando...que alegria!! Só assim acenderiam o seu cigarrinho e seria aquele prazer dar uma tragadinha!! Já pensou, camarada¿

Um deles, o mais afoito, seguiu a luzinha e nada de acender o cigarro...pôxa, cara, não consegui acender meu cigarro...disse ele. Mas por que azarado¿ retrucou o outro. – Pôxa cara, o “caboco” passou de bicicleta, e ia com tanta pressa,e os outros seguiram o da bicicleta, já viu¿ é muita falta de sorte mesmo, puta merda!!

Depois de tantas tentativas dos velhos amigos farristas e bêbados, já que a noite era longa, o melhor seria os mesmos se recostarem ali num matinho, debaixo de uma moita, unirem-se em seus odores e bafos,e dormir...com certeza foram dormir e bem....e depois que amanheceu o dia, nenhum deles se lembrava de nada...coisas de quem bebe sem limites....

______Colinas-Ma., férias julho de 2010________________

Lêda Torre
Enviado por Lêda Torre em 31/07/2010
Reeditado em 03/06/2015
Código do texto: T2411237
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